IMIGRAÇÃO

Biden anuncia proteção a imigrantes casados com americanos

Ação contrasta com ordem executiva do próprio democrata para limitar a entrada de migrantes pela fronteira com o México.

19/06/2024 | Tempo de leitura: 5 min
da Folhapress

Reprodução/Gage Skidmore/Flickr

Biden, que tentará a reeleição, lida com a entrada de milhões de migrantes em situação irregular pela fronteira com o México todos os anos.
Biden, que tentará a reeleição, lida com a entrada de milhões de migrantes em situação irregular pela fronteira com o México todos os anos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta terça-feira (18) um programa que vai garantir mais proteção para centenas de milhares de imigrantes em situação ilegal no país, mas que são casados com cidadãos americanos.

Leia tambémA cinco meses da eleição, Biden fecha fronteira para imigrantes

A ação contrasta com os planos de deportações em massa do seu provável rival na eleição presidencial de novembro, o republicano Donald Trump, e até mesmo com uma medida tomada pelo próprio democrata há algumas semanas - no início de junho, Biden assinou uma ordem executiva para limitar a entrada de migrantes pela fronteira com o México.

Em cerimônia na Casa Branca, Biden comentou a nova política e aproveitou a ocasião para criticar Trump. Segundo o atual presidente, o adversário foi responsável por separar famílias na fronteira e tem sido inconsequente ao abordar o tema na corrida eleitoral - o republicano já disse que os migrantes estavam "envenenando o sangue" dos EUA.

"É difícil acreditar que isso tem sido dito, mas ele [Trump] diz essas coisas em voz alta. E é ultrajante", afirmou Biden. "Não estou interessado em fazer política com a fronteira ou com a imigração. Estou interessado em consertar isso."

A política anunciada nesta terça poderá beneficiar cerca de 500 mil cônjuges sem documentos, tornando-se a medida mais abrangente em relação ao tema em pelo menos uma década. Os contemplados serão protegidos da deportação e poderão trabalhar legalmente em território americano.

O programa visa àqueles que se casaram com um cidadão americano, o que geralmente oferece um caminho para a cidadania, mas cruzaram a fronteira sul ilegalmente em vez de chegar ao país com um visto. Normalmente, essas pessoas precisam retornar aos países de origem para aguardar o processo de obtenção de um green card.

Com a nova política, os cônjuges poderão solicitar residência permanente sem sair dos EUA, eliminando um processo potencialmente longo, evitando a separação familiar e abrindo caminho para obter um status legal perto de suas famílias. "Essas ações promoverão a união familiar e fortalecerão nossa economia", disse a Casa Branca em comunicado.

Para acessar a política, o solicitante deverá ter completado dez anos vivendo nos EUA até o último dia 17 de junho, segundo funcionários do governo. De acordo com eles, cerca de 50 mil menores de 21 anos que tenham pai ou mãe americano também serão elegíveis, e a maior parte dos beneficiados são cidadãos nascidos no México.

Segundo analistas, a medida vai ajudar Biden a lidar com algumas das consequências negativas que as restrições de asilo impostas pelo próprio democrata suscitaram entre os membros progressistas da sua base. O atual presidente chegou a ser acusado de trair as promessas de campanha relacionadas a uma abordagem mais humana para migrantes.

A cinco meses da eleição, Biden assinou no último dia 4 uma ordem executiva para permitir que, grosso modo, a fronteira seja fechada para solicitantes de asilo caso a média diária de chegada de imigrantes supere 2.500 em um intervalo de sete dias. O limite é muito inferior à média recente - em abril, por exemplo, foram 4.300 travessias por dia.

A fronteira voltaria a abrir duas semanas após o número de chegadas cair abaixo de uma média diária de 1.500 por sete dias. Exceções estão previstas para crianças desacompanhadas e vítimas de tráfico de pessoas, entre outras situações de caráter humanitário. As restrições não se aplicam a pessoas que possuem visto americano.

Segundo o jornal The New York Times, logo após a ordem do começo do mês, a equipe de Biden tranquilizou os políticos mais progressistas de sua legenda e sinalizou que o presidente ajudaria migrantes sem documentos.

A porta-voz da campanha de Trump, Karoline Leavitt, chamou o novo programa de Biden de anistia em um comunicado e reiterou a promessa de deportação de Trump, dizendo que ele "restauraria o Estado de Direito" se fosse reeleito.

A política do democrata não entrará em vigor imediatamente. Funcionários do governo disseram que a expectativa é que o programa seja lançado até o fim de setembro, quando os interessados poderão solicitar o benefício.

É quase certo que o programa será questionado na Justiça. O governador do Texas, Greg Abbott, um republicano cujo estado lutou contra Biden no tribunal por causa da política de imigração, disse em comunicado que o novo esforço é "descaradamente ilegal" e apenas uma política que "procura votos".

A terça-feira ainda marcou o 12º aniversário do Daca, programa lançado por Barack Obama que impede a deportação de imigrantes que entraram no país quando eram crianças.

Lançado em 2012, quando Biden era vice-presidente de Obama, o Daca atualmente livra da deportação e dá autorizações de trabalho a 528 mil pessoas levadas aos EUA quando crianças - os dreamers, como são chamados no país. Nesta terça, o governo também divulgou novas orientações para facilitar a obtenção de vistos de trabalho a esse grupo.

Pela legalização

Um pouco mais da metade dos eleitores dos EUA apoia a deportação de todos ou da maioria dos imigrantes nos EUA em situação irregular, mostram pesquisas da Reuters/Ipsos.

Por outro lado, segundo levantamento do grupo de defesa de migrantes Immigration Hub, 71% dos eleitores em sete estados-pêndulo são favoráveis a permitir que cônjuges de americanos há mais de cinco anos permaneçam no país.

Rebecca Shi, diretora executiva da American Business Immigration Coalition, disse que debates conduzidos por sua organização com eleitores independentes e republicanos mostraram apoio ao status legal para cônjuges. "Isso aumenta a participação dos eleitores latinos e da base, mas também tem apoio do centro e da direita", disse Shi na segunda-feira (17).

Existem cerca de 1,1 milhão de imigrantes sem documentos casados com cidadãos americanos no país, de acordo com o FWD.us, um grupo que atua em favor do direito dos migrantes. Nem todos, porém, são elegíveis para o programa. As pessoas consideradas ameaças à segurança pública ou com histórico criminal, por exemplo, não poderão participar.

Biden, que tentará a reeleição em 5 de novembro, lida com a entrada de milhões de migrantes em situação irregular pela fronteira com o México todos os anos. O número de pessoas detidas na fronteira dos EUA com o México ultrapassou 2 milhões tanto no ano fiscal de 2022 como de 2023.

Fale com a Folha da Região! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção? Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Araçatuba e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.