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Qual a nota? No ano da implantação do Novo Ensino Médio, modelo é avaliado com ressalvas

Por Gabriele Maciel |
| Tempo de leitura: 3 min

O ano de 2022 marca o fim do período para que escolas e professores de todo o país implementem o Novo Ensino Médio. Aprovada em 2017, a lei que reestruturou esta etapa da educação previa um prazo de cinco anos para que o sistema se ajustasse ao novo modelo, que prevê, entre outras diretrizes, ampliação do cumprimento de 800 para 1.000 horas mínimas anuais.

Pela nova proposta, 40% da carga horária deve ser utilizados dentro dos chamados itinerários formativos, que são disciplinas optativas que os estudantes poderão adotar considerando habilidades e interesses que prefiram desenvolver. As áreas são Matemática; Ciências Humanas e da Natureza; Linguagens; e Formação Técnica. Os outros 60% da carga serão preenchidos pelas matérias ofertadas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

A ideia é que esse novo modelo torne o Ensino Médio mais atrativo para os jovens, colocando-os em contato com conteúdos que gerem mais identificação. Especialistas ponderam, no entanto, que a evasão escolar nessa etapa da educação acontece menos pela falta de interesse no estudo do que pela necessidade de os jovens trabalharem para ajudar no sustento da família.

Neste primeiro ano de implementação, as mudanças estão voltadas somente para a primeira série do Ensino Médio. Assim, gradualmente, as três séries serão inseridas nas novas diretrizes.

A efetividade das mudanças vem sendo questionada por parte de entidades de defesa da educação que alega ausência de prévio debate público aprofundado, visto que o modelo é fruto de uma Medida Provisória instituída no governo do então presidente Michel Temer (MDB), em 2016.

O fechamento das escolas durante a pandemia de Covid-19 também é citada como um entrave à implementação do Novo Ensino Médio. “Este era o momento de estarmos recuperando a aprendizagem que foi perdida, mas os professores estão fazendo malabarismos para oferecer conteúdos que não fazem parte de sua formação”, afirma Claudia Bandeira, que é mestre em educação pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) São Paulo e assessora do Ação Educativa.

Por outro lado, a Secretaria estadual de Educação afirma que a rede vem sendo preparada desde 2020 e que os professores passaram por formação para se adaptar a essa nova realidade.

REVOGAÇÃO
Estudantes e professores ouvidos por OVALE fazem o mesmo diagnóstico do Novo Ensino Médio e dizem que, apesar de a proposta ser interessante, pode ser questionada tanto em execução quanto em eficácia. Enquanto os docentes dizem que o novo modelo sobrecarrega-os em demandas, alunos falam em conteúdos fracos e falta de organização dos itinerários.

Neste sentido, a Repu (Rede de Escolas Públicas e Universidades) fez uma pesquisa empírica que mostra, entre outras constatações, que faltam professores na rede estadual e que houve expansão do modelo de ensino a distância. “A pesquisa mostra que a possibilidade de escolha na verdade é uma farsa, porque faltam professores, faltam salas de aula disponíveis para oferta de eletivas e não há material didático disponível”, explica Fernando Cássio, professor de políticas educacionais na UFABC (Universidade Federal do ABC), integrante da Repu e do comitê diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Ele também alega que muitos diretores optam por oferecer apenas um ou dois itinerários para permitir que os docentes tenham mais condições de desenvolver as disciplinas. Com os dados da pesquisa, a Repu criou carta em defesa da revogação do Novo Ensino Médio. Um projeto de lei que tramita na Câmara pede pelo adiamento.

Estudantes se adaptam com crítica à experiência no novo formato de aulas
O estudante Pedro Henrique Santos Cirino, de 15 anos, tem ressalvas quanto ao novo modelo experimentado na escola estadual que frequenta, na região central de São José dos Campos. Aluno do ensino integral, ele conta que no período da tarde participa de clubes temáticos em que os colegas são responsáveis pelos conteúdos. “Chega no período da tarde eu já estou cansado e ainda tenho que participar das eletivas, que seguem o mesmo modelo das aulas de manhã”, conta.  Lucas Nogueira, de 16 anos, também está em fase de adaptação ao Novo Ensino Médio. Aluno de um colégio particular em zona nobre de São José, ele faz crítica ao conteúdo das disciplinas ofertadas no contraturno. “É fraco. Sinto que estou perdendo oportunidade de focar nas matérias que vão cair nos vestibulares”, comenta.


 

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