29 de dezembro de 2025
SAÚDE MENTAL

VEJA como lidar com a ansiedade causada pelo fim do ano

Por Bia Xavier - JP |
| Tempo de leitura: 3 min
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O encerramento do ano costuma ser vendido como um momento de celebração, metas cumpridas e sensação de dever realizado. Na prática, porém, esse período frequentemente desperta ansiedade, frustração e uma percepção ampliada de falhas pessoais. A soma de prazos, expectativas sociais e balanços internos cria um cenário emocionalmente desafiador para muitas pessoas.

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De acordo com o professor João Manfio, docente do curso de Psicologia da UniSociesc, o fim do ano funciona como um “marco simbólico” que convida à avaliação da própria vida — nem sempre de forma gentil. “Quando um ciclo se fecha, somos levados a confrontar não apenas o que conquistamos, mas também aquilo que ficou pelo caminho. Esse contraste tende a gerar sofrimento emocional”, explica.

A pressão invisível por resultados

Expressões comuns nesta época, como “terminar o ano bem” ou “fechar com chave de ouro”, podem parecer inofensivas, mas carregam uma lógica de desempenho constante. Segundo Manfio, esse tipo de discurso acaba sendo internalizado e transformado em autocobrança excessiva.

“O problema não está em estabelecer objetivos, mas em usar essas metas como régua absoluta para julgar a própria vida. Quando isso acontece, qualquer desvio do ideal pode ser interpretado como fracasso”, afirma. Na maioria das vezes, essa cobrança é mais interna do que externa — e pouco conectada às condições reais vividas ao longo do ano.

Quando a ansiedade deixa de ser passageira

Sentir-se mais tenso no fim do ano é esperado, especialmente diante de compromissos acumulados e mudanças na rotina. No entanto, há sinais de alerta que indicam a necessidade de atenção profissional. Entre eles estão dificuldades persistentes para dormir, sensação de aperto no peito, pensamentos acelerados e a incapacidade de manter atividades cotidianas por causa da ansiedade.

“Quando o corpo começa a sinalizar dessa forma, não é fraqueza, é um pedido de cuidado”, ressalta o professor. Buscar apoio psicológico nesses casos pode evitar que o sofrimento se prolongue ou se intensifique.

Reflexão anual: ferramenta ou armadilha?

Fazer um balanço do ano pode ser positivo, desde que não se transforme em um ritual de autocrítica. Para o psicólogo, a reflexão saudável é aquela que considera o contexto e reconhece limites. “Perguntar apenas ‘o que faltou?’ reforça uma visão punitiva. Uma pergunta mais honesta seria: ‘o que foi possível fazer com os recursos e condições que eu tinha?’”, orienta.

Ele destaca ainda que metas profissionais não devem ser confundidas com valor pessoal. “A vida não pode ser reduzida a uma lista de entregas.”

Estratégias para atravessar o período com mais leveza

Algumas atitudes simples podem ajudar a reduzir o impacto emocional típico do fim do ano:

Cansaço não é fracasso

Por fim, Manfio reforça que o esgotamento emocional é um reflexo do ritmo de vida contemporâneo. “Vivemos em uma lógica que exige produtividade constante. Sentir-se cansado não é sinal de incompetência, é sinal de humanidade”, conclui.

Reconhecer limites, rever expectativas e atravessar o fim do ano com mais compaixão por si mesmo pode ser o primeiro passo para começar um novo ciclo de forma mais saudável.