17 de dezembro de 2025
ÚLTIMO DESEJO

Antes de morrer, Vaqueirinho fez pedido à mãe em carta de Natal

Por Da redação |
| Tempo de leitura: 2 min
Reprodução

Uma carta simples, escrita como pedido de Natal, ganhou repercussão nacional após a morte de Gerson de Melo Machado, conhecido como Vaqueirinho. O texto, que circulou nas redes sociais nos últimos dias, revela desejos profundos de afeto, acolhimento familiar e realização profissional — contrastando com uma história marcada por vulnerabilidade extrema e falhas no cuidado em saúde mental.

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Na mensagem, Gerson afirma que seu maior sonho não envolvia bens materiais. Ele pedia apenas a presença da mãe, a quem desejava receber “para ter carinho e amor”, além da chance de trabalhar em uma profissão ligada à proteção dos animais, citando o desejo de ser veterinário ou policial florestal. A carta foi compartilhada publicamente pela conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou parte da trajetória do jovem.

Gerson morreu aos 19 anos, no mês passado, após invadir o recinto de felinos do Parque Zoobotânico Arruda Câmara, a Bica, em João Pessoa (PB). O episódio trouxe à tona um histórico de sofrimento psíquico, exclusão social e repetidas passagens por instituições públicas sem que houvesse, segundo relatos, um atendimento adequado e contínuo.

De acordo com informações da Polícia Civil, o jovem acumulava 16 registros, em sua maioria por danos e pequenos furtos. A delegada Josenice de Andrade Francisco afirmou que Gerson apresentava sinais claros de transtornos mentais e que, na última vez em que foi conduzido à Central de Flagrantes, houve solicitação de internação psiquiátrica, que não chegou a ser analisada a tempo.

A conselheira tutelar destacou que a carta evidencia as “impossibilidades” que marcaram a vida do jovem. Em desabafo, ela lamentou o fato de desejos tão básicos — como cuidado, afeto e oportunidade — nunca terem sido plenamente atendidos. Segundo ela, o diagnóstico de esquizofrenia ocorreu de forma tardia, agravando ainda mais a situação.

Desde a infância, Gerson demonstrava fascínio por grandes felinos. Ele costumava relatar o sonho de viajar à África para cuidar de leões, ideia que repetia com insistência a policiais e conselheiros. Em uma das situações mais graves, tentou acessar um avião clandestinamente, sendo interceptado antes que algo mais sério acontecesse.

Ao final da carta, Gerson agradece às pessoas e profissionais que o auxiliavam no momento em que estava privado de liberdade, demonstrando consciência de sua condição e esperança de recuperação. O conteúdo do texto reacendeu debates sobre saúde mental, proteção social e a responsabilidade do poder público diante de jovens em situação de extrema fragilidade.

A carta, agora lida sob o peso da tragédia, se tornou símbolo de um pedido que não foi atendido a tempo.