A disputa pela Warner Bros. Discovery transformou-se no novo épico corporativo de Hollywood. Netflix e Paramount medem forças por um dos catálogos mais valiosos do entretenimento mundial — e o resultado pode redefinir o futuro do streaming, dos preços de assinatura e até do próprio cinema.
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Apesar do entusiasmo do mercado, a negociação está longe do fim. Reguladores dos Estados Unidos e da Europa já sinalizam preocupação com o impacto de uma possível fusão sobre a concorrência. Legisladores americanos, inclusive de partidos opostos, criticam a proposta da Netflix, afirmando que o acordo poderia reduzir opções e encarecer serviços.
Outro elemento embaralha ainda mais a equação: a postura do presidente Donald Trump. Intervenções recentes do governo em fusões de mídia levantam dúvidas sobre como a Casa Branca irá se posicionar. Trump já demonstrou desconforto com a dimensão que a Netflix alcançaria e exigiu que a CNN — que não está no pacote — seja vendida em qualquer rearranjo, o que adiciona imprevisibilidade ao processo.
Enquanto a Warner prepara o desmembramento de divisões como CNN, Discovery e Eurosport, a Paramount Skydance tenta avançar com uma oferta hostil. A investida, que ignora a administração da empresa-alvo e busca convencer diretamente os acionistas, se apresenta como uma alternativa menos concentrada. Analistas apontam que, se for adiante, exigirá uma análise rigorosa do impacto no mercado publicitário e nas redes esportivas e infantis.
A Netflix já domina o streaming global com mais de 300 milhões de assinantes, cifra que pode saltar ao incorporar parte dos 128 milhões de usuários da HBO Max. A gigante também se consolidou como maior produtora de conteúdo original da Califórnia.
Com a Warner, somaria um acervo centenário — de clássicos como Casablanca e O Exorcista a franquias bilionárias como Harry Potter, Looney Tunes, Friends, DC e sucessos recentes como Succession e Game of Thrones.
Especialistas afirmam que essa união poderia tornar a empresa “virtualmente inalcançável” para o restante do mercado. Já se a Paramount vencer, incorpora parte dessa base à sua atual carteira de 79 milhões de assinantes, reforçando sua presença no setor.
Como a Netflix pretende integrar a marca HBO e o estúdio ainda é um mistério. Executivos sugerem que o nome HBO continuará existindo, mas evitam detalhar estratégias. O impacto nos preços é igualmente nebuloso: concentração pode abrir espaço para aumentos, enquanto pacotes combinados podem reduzir o número de assinaturas necessárias.
No Brasil, o cenário atual evidencia as diferenças:
Para muitos profissionais da indústria, a venda da Warner simboliza o declínio definitivo do modelo tradicional de cinema e TV. A transformação acelerada pelo streaming abalou estúdios, reduziu postos de trabalho e intensificou o uso de tecnologia e inteligência artificial na produção.
Mesmo prometendo manter estreias nas salas de cinema — especialmente as da lucrativa franquia DC — a Netflix já afirmou que considera as exibições em salas um “conceito ultrapassado”. O diretor James Cameron classificou o acordo como um possível “desastre” para Hollywood, refletindo o temor generalizado de que o setor se torne refém de poucas plataformas.