O diabetes, condição que afeta mais de uma em cada nove pessoas adultas globalmente, possui uma relação direta e frequentemente ignorada com a saúde bucal. Enquanto o foco do tratamento costuma recair sobre órgãos vitais como coração, rins e olhos, problemas na boca podem ser tanto um sintoma quanto um fator de agravamento do controle glicêmico.
A projeção é que até 2050, cerca de 853 milhões de adultos (um em cada oito) serão afetados pela doença. Diante desse panorama, o entendimento da interdependência entre o diabetes e a saúde oral torna-se essencial para o bem-estar geral dos pacientes.
O diabetes modifica a maneira como o corpo gerencia a glicose. Níveis sanguíneos consistentemente altos prejudicam vasos e nervos, retardam a recuperação de lesões e comprometem a resposta imune a infecções.
A boca é particularmente vulnerável a esses efeitos. Problemas bucais associados à condição incluem:
Tais complicações impactam a nutrição, a autoestima e podem, por sua vez, dificultar o controle da glicose no sangue, criando um ciclo desfavorável. Pesquisas recentes confirmaram uma associação entre diabetes tipo 2 e o agravamento da cárie dentária, influenciado pela glicose elevada e por mudanças na qualidade e quantidade de saliva.
Pessoas com diabetes apresentam maior probabilidade de desenvolver doença gengival (periodontite). A glicose alta eleva o teor de açúcar na saliva, servindo como alimento para as bactérias bucais, que produzem ácidos que irritam e danificam o tecido gengival.
Se a infecção progredir, o osso que sustenta os dentes pode ser destruído. A consequente perda óssea leva ao amolecimento e, eventualmente, à queda dos dentes. A manutenção de níveis saudáveis de glicose e uma rotina de higiene bucal rigorosa são cruciais para mitigar esse risco.
A xerostomia, ou boca seca, é uma queixa comum entre indivíduos com diabetes, sendo também intensificada por medicamentos utilizados no tratamento de hipertensão, depressão ou dor neuropática.
A saliva desempenha uma função protetora vital, removendo resíduos alimentares, neutralizando ácidos e prevenindo infecções. A ausência de saliva suficiente torna o ambiente oral mais ácido, favorecendo a desmineralização dentária e o aumento do risco de cárie.
Profissionais de odontologia podem implementar planos de prevenção personalizados, utilizando flúor tópico, enxaguantes específicos ou cremes dentais com alta concentração de flúor.
A saliva também é fundamental para o conforto e estabilidade de usuários de próteses dentárias, pois amortece a gengiva e estabiliza o dispositivo. Em casos de boca seca, a prótese pode causar atrito, lesões e infecções como candidíase.
Cuidados adequados com a prótese — incluindo higienização diária, remoção noturna, escovação das gengivas e consultas odontológicas regulares — melhoram o conforto e a alimentação.
Para o planejamento de implantes dentários, o controle rigoroso do diabetes é mandatório. A hiperglicemia compromete a cicatrização, eleva o risco de infecção e prejudica a osseointegração. O sucesso do procedimento exige gengivas e níveis ósseos saudáveis, além de higiene bucal satisfatória. O dentista deve conduzir uma avaliação individualizada em cada situação.