
Em seu segundo mandato como deputada estadual, Maria Izabel Azevedo Noronha, a professora Bebel (PT), tem atuado em diversas frentes, da defesa da educação pública paulista à mobilização contra pedágios na região. Sindicalista e vice-presidenta estadual do PT, Bebel também tem percorrido o interior para fortalecer a base do partido no processo de eleição direta deste ano. Nesta entrevista, ela fala sobre os desafios da educação sob a gestão estadual, os investimentos federais conquistados para Piracicaba e região, as articulações para transformar o antigo campus da Unimep em universidade federal, além de fazer um balanço de sua trajetória parlamentar e analisar o atual cenário político local e estadual.
A senhora é professora da rede estadual de ensino, além de deputada estadual. Como tem sido a sua relação com o governo estadual na defesa dos professores e da educação pública paulista? E qual foi o resultado da campanha salarial deste ano?
As relações são institucionais e até mesmo cordiais, como deve ser entre entes públicos, mas difíceis. Este governo não tem compromisso com a Educação, com os serviços públicos, com os direitos da maioria da população. Conseguimos, com muita mobilização e pressão, arrancar 5% de reajuste para todo o funcionalismo e, no caso dos professores, conseguimos mais 1,27% para aqueles e aquelas que ganham abaixo do piso nacional. Estamos negociando regras mais justas para a atribuição de aulas de 2026, conseguimos o compromisso de convocação de mais 10 mil professores concursados, além de completar as 15 mil vagas da chamada inicial do concurso e, também, uma mesa permanente de valorização dos docentes. Ainda é pouco perto da grande lista de reivindicações que vem se acumulando. E nossos salários continuam muito defasados.
Como vice-presidenta estadual do PT e coordenadora da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a senhora tem percorrido diversas cidades para dialogar sobre o PED (Processo de Eleição Direta) do partido. Qual a importância desse processo marcado para seis de julho e como ele impacta o fortalecimento da legenda em São Paulo?
O Partido dos Trabalhadores é o único que elege suas direções pelo voto direto dos filiados. Isto por si mesmo já é um grande diferencial e fortalece nosso partido na base e na sociedade. Tudo está em discussão, e espero que ao final do processo, tenhamos um PT ainda mais bem preparado para reeleger o presidente Lula, conquistar o governo do estado de São Paulo e eleger grandes e fortes bancadas de senadores, deputados federais e deputados estaduais em São Paulo e em todo o Brasil. Justamente por isso, em Piracicaba, sem demérito ao candidato da chapa “Muda PT”, apoio à candidatura do companheiro Pedro Totti, que vem do movimento sindical, filiado há 30 anos, muito bem preparado, que nunca ocupou um cargo de destaque no diretório, e que encabeça a chapa plural “PT Unido e de Luta”, composta por 68 membros, sendo 8 líderes do movimento sindical, 46 líderes comunitários e de movimentos sociais, 6 líderes religiosos, 12 membros de conselhos do município, 6 ex-vereadores do PT e partidos de esquerda, 13 candidatos a vereador pelo PT nas eleições municipais do ano passado, além de sete ex-secretários municipais e assessores dos governos do PT, 5 ex-presidentes do PT e que inclusive faço parte. O objetivo é fortalecer o partido na cidade, com planejamento coletivo estratégico, criando núcleos e comitês populares, assim como trabalhará na formação política e manterá diálogo com os movimentos sociais, fazendo política de comunicação, com resgate da memória do PT e preparar o partido para os desafios das eleições de 2026. Já para presidente nacional do partido, apoio o companheiro Edinho Silva, e o candidato a presidente estadual o deputado federal Kiko Celeguim, todos da corrente CNB, a mesma do presidente Lula, que governa o país com esta e com as demais correntes do nosso partido.
Também tenho percorrido o Estado de São Paulo, nos últimos meses, para debater e fortalecer o partido no Interior, com mais de três mil filiados participando das discussões da tese. Somos contra o termo refundar, o PT precisa ser fortalecido e ser reconstruído face aos ataques recebidos desde 2013 até a eleição do presidente Lula, que foi eleito pela terceira vez, mesmo saindo da prisão, pelo que representa. Precisamos dar condições de mobilização para a militância, e isso tem que ser natural e não ser criminalizado. Quem é contra isso deveria rasgar os recursos do fundo partidário. Como atual vice-presidente estadual do partido, lutarei para que os diretórios com mais de 50 mil habitantes tenham condições de funcionamento estruturado, para que a militância possa se reunir, se formar e mobilizar. Farei isso sem titubear. Nos da chapa “PT Unido e de Luta” sabemos que estamos encaminhando uma proposta correta.
A gestão do prefeito Hélio Zanatta em Piracicaba completou seis meses. Como a senhora, que foi candidata a prefeita na última eleição municipal, avalia os primeiros meses da administração?
Essa administração não me surpreende. Toma decisões de cima para baixo, sem ouvir a população, como no caso da reforma administrativa feita para apadrinhar apoiadores. Também penalizou a população piracicabana com a taxa de iluminação e dá sinais de que virá com novas medidas para ampliar a arrecadação do município. Já fez cortes no orçamento municipal, atingindo a saúde e a educação, áreas essenciais. Além disso, tentou se apropriar de conquistas alheias, como no caso das ambulâncias do SAMU, e dos aceleradores lineares para a Santa Casa, tentando emplacar uma marca como sendo dele, uma tentativa de enganar a população. Em vez de “desenrolar” problemas crônicos da cidade, ter um olhar especial para a questão ambiental, o nosso Rio Piracicaba, os problemas sociais e atuar para que a cidade continue prosperando, gerando emprego e renda, como prometeu, suas medidas estão deixando a população piracicabana apreensiva. Tem demonstrado que falta a ele uma visão mais estadista, de governar com os diversos poderes. Dou como exemplo a recentemente entrega de 332 casas no Residencial Nova Suíça, em que o município entrou com a área, o governo federal bancou a construção, através do Programa Minha Casa, Minha Vida, e o governo estadual com a entrada do financiamento dos imóveis, através do Programa Casa Paulista. É necessário entender que a eleição já acabou e que a disputa se dá apenas no período eleitoral. Admitir a necessidade de apoios e pedir ajuda não diminui, mostra grandeza.
A senhora liderou um movimento que pressionou o governo estadual a retirar a SP-304 (Rodovia Luiz de Queiroz) e a SP-135 (Estrada Velha de Tupi) do pacote de concessões da Rota Mogiana, que previa a instalação de cinco praças de pedágios. Qual o peso político dessa conquista e quais os próximos passos?
Costumo dizer que a luta sempre vale à pena. Fizemos uma grande mobilização na região, que envolveu diversos segmentos, mas sobretudo lideranças sindicais e movimentos sociais. Para tanto, foi fundamental a audiência pública que realizamos na cidade de Americana e a Frente Parlamentar contra os pedágios que criei na Assembleia Legislativa. Nosso mandato popular articulou em todas as frentes para que a SP-304 fosse retirada do programa de concessões e, portanto, considero uma grande vitória para todos os que se utilizam desta rodovia seja para trabalhar, estudar ou mesmo viajar. Agora, continuaremos cobrando as manutenções necessárias na SP 304, na Estrada Velha de Tupi e outras rodovias, pois continuo percorrendo o estado na luta contra os novos pedágios e por melhorias na malha viária, que não deve se tornar um negócio gerador de lucros para concessionárias.
No final de 2024, Piracicaba recebeu quatro novas ambulâncias do SAMU, em ação do governo federal. Qual foi sua articulação para garantir esse reforço na saúde pública local?
Tenho a honra de ter sido nomeada pelo presidente Lula embaixadora do governo federal na região e busco cumprir esse papel. Assim, encaminhei ofício à então ministra da Saúde, Nísia Trindade, relatando a necessidade de novos veículos para o SAMU de Piracicaba e também fiz articulações com o então ministro da Relações Institucionais, Alexandre Padilha, atual ministro da Saúde. Fico muito feliz que tudo tenha dado certo e hoje a população tem quatro novas ambulâncias a seu dispor. Também destinei R$ 100 mil, por meio de emenda parlamentar, para melhorias na estrutura do pessoal que atua no SAMU.
Quais são as possibilidades de o Campus Taquaral da Unimep, que foi desativado pela Rede Metodista, ser encampado pelo governo federal e Piracicaba passar a contar com uma universidade federal?
Essa luta é muito cara para mim e tenho mantido contatos constantes com o ministro da Educação, Camilo Santana, com o secretário executivo do MEC, Leonardo Barchini, e com outras autoridades federais, no sentido de reafirmar a absoluta necessidade desta universidade federal em Piracicaba. Inclusive entreguei um estudo de viabilidade para o MEC e fui informada que técnicos do Ministério já estiveram na cidade, fazendo avaliação. Parte do Campus Taquaral já foi alienada pela Unimep, mas ainda resta uma área suficiente para a instalação desta universidade e é isto que tenho conversado com o Governo Federal e tenho tido boa receptividade. Todo o movimento que se formou em torno dessa questão é fundamental e deve continuar. Tamanha é a importância de uma universidade pública para a região de Piracicaba, que inclusive propus na discussão estadual da LDO deste ano a inclusão da Unimep, para que o Estado de São Paulo também possa dar sua quota parte.
Recentemente, o presidente Lula entregou oficialmente aceleradores lineares para o tratamento do câncer em seis hospitais do país, incluindo o Cecan da Santa Casa de Piracicaba. Qual a importância dessa conquista para o atendimento oncológico na cidade e na região?
Sim, foi uma solenidade histórica, no último dia 30 de maio, com o presidente Lula fazendo o lançamento do Programa Mais Especialidades e a entrega, em Três D, de Brasília, para seis hospitais no país de aceleradores lineares, incluindo a Santa Casa de Piracicaba, onde estive ao lado do o secretário adjunto de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Nilton Pereira Júnior, do ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França, e de outras autoridades e de populares. Piracicaba é referência no tratamento do câncer e diante de solicitação recebida, fiz articulações com o governo federal, através do ministro Alexandre Padilha, que liberou cerca de R$ 14 milhões, através do PAC, para a aquisição de um novo acelerador linear ao CECAN da Santa Casa de Piracicaba, e para fazer um upgrade no que a instituição já possuía. Com esse novo aparelho, o paciente terá reduzido de 20 para cinco sessões o tratamento, permitindo ampliar o número de atendimentos para toda região. Além disso, estou atuando em outra demanda imediata necessária para garantir novos aparelhos de hemodiálise para a Santa Casa de Piracicaba, que enfrenta filas para o atendimento de pacientes.
Piracicaba sediou, em 20 de maio, uma audiência pública do CONDEPHAAT para debater o projeto Boulevard Boyes, atendendo a uma solicitação sua. Por que esse debate é relevante para o patrimônio cultural da cidade?
O CONDEPHAAT promoveu esta audiência pública a partir de uma intervenção que fiz ao presidente do órgão e seus conselheiros, em 9 dezembro de 2024, em São Paulo, durante uma reunião ordinária, quando estive acompanhada do Pablo Carajol, do “Movimento Salve a Boyes”, por entender que esta discussão necessitava da participação da sociedade piracicabana, que não tomaria conhecimento e não teria a oportunidade de dar sua contribuição. Com isso, a audiência que contou com a participação de mais de 300 participantes, possibilitou uma ampla discussão sobre a importância histórica e cultural de toda orla do Rio Piracicaba. Na ocasião, inclusive, da minha parte, defendi a proposta do “Movimento Salve a Boyes – Tombamento da Fábrica Boyes”, para que possamos discutir o projeto Boulervad Boyes, evitando a fragmentação do Projeto Beira Rio, uma grande conquista do povo piracicabano.
O governo Lula tem investido na reconstrução de políticas sociais. Quais desses investimentos já chegaram à região de Piracicaba por meio de sua atuação parlamentar?
O presidente Lula tem reconstruído e fortalecido as políticas sociais. Só para exemplificar algumas medidas, retomou o Programa Minha Casa Minha Vida, garantindo a construção de milhares de moradias na nossa cidade, destinou R$ 2 milhões para a regularização fundiária das comunidades Pantanal e Portelinha. Criou o Programa “Pé-de-Meia”, beneficiando mais de quatro mil alunos piracicabanos do ensino médio. Garantiu a construção de Quatro novas UBS e repassou R$ 9,82 milhões à Santa Casa e ao Hospital dos Fornecedores de Cana para tratamento do câncer, bem como ampliou o número de médicos do Mais Médicos no município em 27 profissionais, passando atualmente a 35, garantindo o funcionamento de 79 unidades de saúde em Piracicaba, e quatro UPAS (Vila Cristina, Piracicamirim, Vila Sônia e Vila Rezende), entregou 4 novas ambulâncias para o SAMU e um acelerador linear à Santa Casa, além de custear um upgrade no antigo. O SUS custeia o funcionamento de 39 equipes de saúde bucal, além de dois Centro de Especialidades Odontológicas, assim como mantêm dois centros de atenção psicossocial, custeia o programa Saúde da Mulher, que só no ano passado atendeu 3.090 mulheres, e realizou 11.740 exames de colo de útero em mulheres de 25 a 64 anos, assim como realizou 4.660 exames de mamografia, em mulheres na faixa de 50 a 69 anos. Já para a valorização de profissionais que atuam na área da saúde, o governo federal repassou a Piracicaba um total de R$ 5,850 mil para complementação do piso o salarial dos profissionais da enfermagem, além de repassar R$ 793 mil para a contratação de agentes comunitários de saúde e endemias, garantindo a contratação de 281 profissionais. Já o Programa Saúde na Escola também atendeu um total de 45.250 alunos, de 141 escolas do município. O governo federal, que ampliou os medicamentos da Farmácia Popular, atendeu no ano passado um total de 67.970 pessoas da cidade de Piracicaba. Além disso, ampliou o fornecimento das mais vacinas, assim como o programa Bolsa Família e vem muito mais. Também tem disponibilizado recursos para o fomento da indústria. Sem dúvida, o governo do presidente Lula, tem compromisso com as políticas sociais, com a saúde e o desenvolvimento econômico, e tem feito os investimentos necessários, e o nosso mandato tem acompanhado tudo isso muito bem de perto, para assegurar que a população possa ser bem assistida.
A senhora está em seu segundo mandato como deputada estadual. Que balanço faz do seu trabalho até aqui e quais as principais bandeiras que pretende continuar defendendo?
Acredito que o verdadeiro balanço quem faz é a população, na hora do voto. Tenho procurado cumprir todos os compromissos que assumi com os mais de 155 mil eleitores que me honraram com seu voto e venho me dedicando a lutar pelos direitos da classe trabalhadora, pela população de Piracicaba e região, além da capital e outras regiões do estado, pela educação, por todos os serviços públicos, pelo desenvolvimento regional, meio ambiente, juventude, mulheres, negros, toda diversidade, sobretudo a população vulnerável.
Nas eleições de 2026, o Brasil escolherá presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. A senhora pretende disputar um novo mandato? E qual é a importância estratégica de Piracicaba no cenário eleitoral estadual e nacional?
O grupo do qual faço parte na Apeoesp – Articulação Sindical, da base a diretoria, a quem devo a minha trajetória, já estabeleceu que devo disputar a eleição para deputada estadual, para continuar o trabalho na Alesp. Quanto à importância estratégica de Piracicaba, ela se expressa em seus mais de 430 mil habitantes, sua economia pujante, seu patrimônio histórico e cultural. Sou piracicabana, amo minha cidade. Em uma eventual campanha, toda a nossa região terá um papel central, embora tenhamos todos a clareza de que uma campanha vitoriosa, independente do candidato, é feita em todo o estado. Tenho a felicidade de ter sido votada em 632 dos 645 municípios do estado, inclusive com votação muito expressiva na Capital, que num universo de 94 deputados fui a vigésima terceira mais votada, e a mulher mais votada, apesar de toda dificuldade que a mulher enfrenta na política.
Como a senhora avalia a atual política educacional do secretário da Educação, Renato Feder? Há avanços ou retrocessos na visão dos profissionais da educação?
É uma política educacional desastrosa. Não há compromisso com a qualidade do ensino, nem com os direitos dos estudantes e profissionais da educação. O governador Tarcísio de Freitas cortou R$ 11 bilhões anuais da Educação, seu projeto é privatizante, militarista. Professores e estudantes são vigiados, monitorados, coibidos pelas plataformas digitais. Nas escolas prevalece o assédio moral. Os maus resultados comprovam. As médias dos estudantes da rede pública estadual estão muito baixas em todas as avaliações.
Recentemente, duas escolas de Piracicaba aprovaram o modelo cívico-militar, proposto pelo governador. Qual a sua avaliação dessa iniciativa e a opção dessas escolas pelo novo modelo?
É um péssimo modelo. Escola pública não precisa de militarização. Precisa de investimentos, precisa de profissionais valorizados, precisa que sejam cumpridos os princípios educacionais que estão na Constituição: liberdade de ensinar e aprender, pluralidade de ideias e concepções pedagógicas, gestão democrática. Escola é espaço de liberdade e conhecimento, não cabide de emprego para policial da reserva ganhar mais que professor. Estou confiante de que o Supremo Tribunal Federal irá derrubar esse programa, como já havíamos conquistado liminar no Tribunal de Justiça de São Paulo.
A senhora tem defendido a valorização dos servidores públicos estaduais. Quais são as prioridades hoje para essa categoria, especialmente em áreas como educação, saúde e segurança?
Professora Bebel – São muitas as prioridades. Em primeiro lugar, recompor os salários, totalmente defasados, planos de carreira justos e atrativos para todos os servidores, prover condições de trabalho a todos, realizar concursos públicos para recompor os quadros de servidores e acabar com a política de terceirizações, investir na estrutura e no bom funcionamento dos órgãos públicos e não privatizar empresas, órgãos e serviços públicos, entre outras. Acima de tudo, respeito, valorização e democracia. Há um projeto de minha autoria na Assembleia Legislativa que institui o Plano Estadual dos Servidores Públicos, visando garantir essas condições.
Como mulher, sindicalista e parlamentar, que desafios ainda persistem na luta por maior representatividade feminina na política e nos espaços de poder?
Ampliar a representatividade feminina é uma luta diária, assim como combater a violência política de gênero (quando pessoas machistas tentam impedir mulheres de exercerem seus mandatos), combater os feminicídios, todo tipo de violência e discriminação contra a mulher que resultam do machismo arraigado na nossa sociedade. Esse é um dos compromissos do nosso mandato popular.