O carrinho de supermercado parado em frente ao balcão da lanchonete Trio's Burger, às vésperas do Ano-Novo, é uma lembrança de que ali por perto já funcionou um comércio desse tipo. Outros carrinhos também permanecem parados na despensa do Empório Vignamazzi, vizinho à lanchonete, ambos situados no estacionamento do Shopping Center Norte, zona norte da capital paulista. "O pessoal deixou para a gente", diz a funcionária do empório, que não quis se identificar.
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"O pessoal", no caso, é o Carrefour, o maior grupo varejista do Brasil, que no último dia 21 fechou as portas de uma das suas lojas mais tradicionais na capital paulista, o hipermercado do Center Norte, inaugurado em 1987. A previsão era que a loja funcionasse até o dia 31 de dezembro, quando a reportagem visitou o local. Mas o ponto promoveu uma queima de estoque e encerrou as atividades dez dias antes.
"Eles fizeram promoção, venderam um monte, e fecharam. Só assim para essa loja apresentar preço bom", diz a atendente. O trabalhador do estacionamento do shopping, que também não quis dar o nome, disse que a oferta de eletroeletrônicos nos últimos dias de funcionamento do ponto compensou. A funcionária da farmácia que fica nas imediações também elogiou os preços de fim de loja. "Tinha uma air fryer por R$ 200. Mas eu estava sem dinheiro."
O fim do Carrefour Center Norte simboliza, na visão de especialistas em varejo, um ocaso do negócio de hipermercados no Brasil.
Segundo a consultoria Euromonitor International, o segmento teve queda de 25% no faturamento em 2023 em relação às vendas de 2019. No mesmo intervalo, os atacarejos saltaram 84%, para R$ 136,7 bilhões, enquanto os supermercados se fortaleceram e pequenos mercados locais -como hortifrútis e empórios- ganharam espaço.
"Nós estamos vivendo um processo de perda de relevância dos hipermercados no Brasil, que foram atropelados pelo atacarejo", diz Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.
Na opinião de Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, são os hipermercados os que mais sofrem com a consolidação dos atacarejos. "Quando o hipermercado do Center Norte foi inaugurado, nos anos 80, época da hiperinflação, o modelo fazia sentido", diz Foganholo. "Hoje o hipermercado já não gera fluxo para o shopping."
Serrentino concorda: hoje os consumidores dão preferência aos atacarejos para o varejo alimentar, em busca de preços baixos, enquanto a compra de outras categorias, como eletro e roupas, ocorrem em lojas especializadas ou no ecommerce. "Para um shopping, não é necessário uma âncora de varejo alimentar desse tamanho. É mais interessante fatiar uma área dessa em diversas lojas, inclusive com um supermercado menor."
Foi a família fundadora do shopping, os Baumgart, que pediu o encerramento das atividades do Carrefour no Center Norte. Em nota, o grupo francês informou que o hipermercado "encerrou suas operações no dia 21 de dezembro de 2024, atendendo a um pedido da administração do empreendimento pelo imóvel."
Quanto à equipe, o Carrefour disse que, dos 168 funcionários da loja, "a maioria já foi realocada em outras unidades do grupo", e que a empresa continua "buscando espaços para o restante dos colaboradores". Neste mês, o Carrefour Brasil demitiu 2.200 funcionários às vésperas do Natal, em parte devido ao fechamento de lojas.
O grupo diz que os clientes da zona norte de São Paulo podem contar com outras 14 unidades do Carrefour na região e refuta a ideia de que os hipermercados estão desaparecendo. "O grupo acredita na força de todos os modelos disponíveis aos clientes -e seu poder de adaptação para atender mudanças de consumo, quando há necessidade", afirmou.
Questionado pela reportagem, o Center Norte não respondeu o que deve fazer com a área, hoje repleta de tapumes. Há especulações sobre a criação de um espaço de lazer e até sobre a chegada de outro varejista alimentar, desta vez no formato de supermercado. "O shopping ressalta que a área já está passando por estudos e em breve trará novidades para a zona norte de São Paulo", disse, em nota.
No shopping, passam cerca de 24 mil visitantes por dia. No início de dezembro, o Center Norte anunciou uma expansão, de mais de 6 mil m² de ABL (área bruta locável), com investimentos de R$ 100 milhões e a chegada de novas bandeiras ao empreendimento, como as sofisticadas Diesel, Farm, Sephora e Zara.
Com 40 anos completados em 2024, o Shopping Center Norte faz parte da chamada "Cidade Center Norte", um complexo multiuso com empreendimentos distintos, que inclui o shopping de móveis e decorações Lar Center, o centro de exposições Expo Center Norte, o hotel Novotel e em breve o condomínio residencial Bioma.
Antes de ser Carrefour Center Norte, o hipermercado era Eldorado Center Norte, um dos oito administrados pelo empresário João Alves Veríssimo Sobrinho, que vendeu as lojas para o grupo francês em 1997. Era um do principais centros de compras da zona norte da capital e ajudou a puxar fluxo de consumidores para o shopping nos anos 1980 e 1990.
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3 Comentários
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Fernando 1 dia atrasCarrefour sabe que o que vende mesmo é o varejo comum e o Atacadão é a menina dos olhos de ouro, não tem motivo de ficar investindo numa coisa que não funciona mais como era no passado.
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Infante 2 dias atrásO Carrefour ao seguir ideologia furada e tentar prejudicar o Brasil que polui menos de dez vezes o que a França polui, perdeu clientes. Aux revoir ????
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Junior 2 dias atrásCarrefour do Ribeirão Shopping, então daqui uns dias Tchau, Tchau!