Pesquisadores do campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp) descobriram uma nova espécie de anêmona-do-mar em uma expedição com alunos em Ubatuba, no litoral norte paulista. O achado permitiu a detecção não apenas da espécie, a Antholoba fabiani, mas de toda uma nova família, denominada Antholobidae.
Inesperado, o encontro do exemplar, vivendo sobre conchas de caracóis entre cinco e 20 metros de profundidade, ocorreu há cerca de dois anos, quando os professores e estudantes acompanhavam pescadores em um arrasto de camarões a cerca de 500 metros de distância da costa. Após análises de DNA e a constatação de que, de fato, os pesquisadores estavam diante de uma nova espécie e uma nova família de anêmona-do-mar, a descoberta foi publicada em abril deste ano na revista científica Marine Biodiversity, fato divulgado recentemente pelo Jornal da Unesp.
O artigo foi assinado pelo doutorando Jeferson Alexis Durán Fuentes, do programa de Pós-Graduação Interunidades em Biociências da Unesp; por seu orientador, o biólogo Sérgio Nascimento Stampar, do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru; e pelos pesquisadores Ricardo González Muñoz, da Universidade Nacional de Mar del Plata, da Argentina; e Marymegan Daly, da Universidade Estadual de Ohio, dos Estados Unidos.
Alerta
O nome da nova anêmona-do-mar foi escolhido em homenagem a Fabián Acuña, docente da Universidade Nacional de Mar del Plata reconhecido por seus estudos sobre estes animais marinhos no Atlântico Sul. Esta foi a primeira espécie pertencente ao gênero Antholoba descrita na região desde o século 19, quando foram documentadas as espécies Antholoba achates e a Antholoba perdix.
Para Stampar, a descoberta alerta para a necessidade de mais investimento em pesquisas marinhas até mesmo em áreas consideradas bem estudadas. "Para a ciência em geral, o avanço mais relevante é o reconhecimento de uma espécie e uma família nova em uma região ambientalmente super impactada, demonstrando a falta de pesquisas mesmo em locais com alto impacto ambiental e com altíssimo uso pelas populações humanas", avalia.
O docente conta que a descoberta ocorreu quase por acidente em idas a campo em Ubatuba, exigidas em uma disciplina de graduação. "Logo após as coletas, verificamos que não se tratavam de espécimes de alguma espécie conhecida na região e, assim, começamos a analisar os dados de morfologia e de DNA", revela. Os estudos foram conduzidos no Laboratório de Evolução e Diversidade Aquática (LEDALab) da Faculdade de Ciências, onde o material coletado foi comparado a exemplares semelhantes capturados anos atrás no litoral de Santa Catarina.
Tecnologia
"Determinamos que esta espécie é bem diferente das demais. Neste sentido, os recursos tecnológicos foram essenciais, pois utilizamos técnicas avançadas de análise de DNA, algo bastante importante e que dependeu de décadas de avanço científico", pondera o professor, sobre os estudos que envolveram cientistas da Universidade Nacional de Mar del Plata e da Universidade Estadual de Ohio.
Os achados já foram incluídos na plataforma World Register of Marine Species, catálogo que reúne todos os animais e plantas marinhos do mundo. No aspecto morfológico, a nova espécie tem coloração marrom na coluna, tentáculos brancos e uma parte do corpo, denominada disco oral, em formato de copo.
Além disso, possui arranjos diferentes nos mesentérios, membranas que sustentam a forma do animal, que é invertebrado. A Antholoba fabiani possui 199 pares de mesentérios divididos em sete ciclos, enquanto Antholoba achates e pedix têm 96 pares separados em cinco ciclos. Por meio da análise molecular, foi possível aprofundar as diferenças morfológicas, permitindo uma classificação mais detalhada e adequada da espécie, semelhante a de famílias que vivem em águas profundas, mas que ocorre em água rasa.