Agricultores franceses fazem nesta quarta-feira (20), pelo terceiro dia seguido, uma série de protestos pelo país contra as negociações do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.
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As manifestações são motivadas pelo descontentamento de trabalhadores e empresas rurais com os termos do tratado, principalmente em relação ao que chamam de concorrência desleal.
Na avaliação deles, produtos sul-americanos mais baratos e submetidos a regras ambientais menos rigorosas teriam acesso ao mercado europeu em detrimento dos fornecedores locais.
Após o maior sindicato agrícola da França, a FNSEA, organizar mais de 80 protestos na segunda (18), outro grupo, chamado Coordination Rurale, foi às ruas para condenar o que chamam de "morte da agricultura".
Na terça, o sindicato esvaziou vinho branco de um caminhão na estrada próxima à fronteira com a Espanha e jogou esterco e lixo em frente a edifícios oficiais.
"Nossas ações estão se intensificando porque é uma questão de sobrevivência e queremos um futuro para nossos jovens", disse a presidente da Coordination Rurale, Veronique Le Floc'h, a um veículo francês.
O grupo ameaçou bloquear portos e centros de distribuição de varejistas para colocar em risco o abastecimento de alimentos no país. A cerca de 10 quilômetros da fronteira com a Espanha, agricultores bloqueavam caminhões com mercadorias provenientes do país vizinho.
Nesta quarta, o governo da França denunciou o que chamou de "danos inaceitáveis" provocados pelos protestos e criticou o bloqueio de estradas. "Não é razoável e não beneficia a causa agrícola", disse a ministra da Agricultura, Annie Genevard, ao canal France 2.
Os protestos desta semana acontecem após parlamentares da UE darem sinais de esforço para concluir o acordo comercial. Na última semana, uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu, a dinamarquesa Christel Schaldemose, afirmou à Folha que há apoio no Legislativo da UE para a aprovação do termo.
O tratado entre Mercosul e União Europeia está em negociação há mais de 20 anos e teve sua conclusão anunciada em 2019, ainda no governo Jair Bolsonaro (PL). A agenda negacionista do clima do ex-presidente, porém, impediu que ele fosse enviado para análise do Parlamento Europeu, e as negociações acabaram sendo reabertas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Durante a semana da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, sindicatos agrícolas foram às ruas na Europa diante da expectativa de que o acordo pudesse ser assinado durante o encontro.
Na França, o setor agropecuário tem expressiva força política. Não é à toa que o país se tornou o principal opositor europeu ao tratado, que tem apoio de Espanha e Alemanha.
Recentemente, mais de 600 parlamentares franceses de vários grupos políticos enviaram mensagem à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, manifestando oposição às negociações da UE com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
"A França não está isolada e muitos países [europeus] nos acompanham nesta oposição", afirmou na terça o presidente Emmanuel Macron.