VEJA MAPA

Locais sem árvores em Piracicaba são até 2ºC mais quentes que áreas arborizadas

Segundo informações da Simap (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Infraestrutura), há no sistema viário de Piracicaba, aproximadamente, 100 mil árvores

Por Nani Camargo | 15/03/2024 | Tempo de leitura: 5 min

Divulgação

Trechos próximos ao rio Piracicaba têm clima mais ameno devido à arborização
Trechos próximos ao rio Piracicaba têm clima mais ameno devido à arborização

A cada ano, as temperaturas estão mais elevadas. A bolha de calor atinge praticamente todo o Brasil, com regiões mais quentes que a outra. Piracicaba está inserida nessas áreas com clima elevado no Estado, o que preocupa autoridades e ambientalistas.

Um levantamento feito pelo professor Demóstenes Ferreira da Silva Filho mostra que áreas sem árvores em Piracicaba são até 2ºC mais quentes do que locais arborizados. O docente atua no Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). É especializado em Silvicultura Urbana. "Apesar de ter bastante árvores, Piracicaba não tem uma boa cobertura arbórea que traga sombra. Temos muito arbustos, que são árvores pequenas", disse, em entrevista ao JP.

O levantamento do professor, denominado "mapa termal", foi feito com satélites no fim do ano passado. "Uma área que teve 20 árvores cortadas para construção de um estacionamento, na Praça Antônio de Pádua Dutra, na Avenida Armando de Salles de Oliveira, apresentava 33ºC de temperatura em sua superfície às 10h. No mesmo horário, a Praça José Bonifácio, no Centro, que é arborizada, tinha 31ºC de temperatura", explica. E ele ressalva ainda que 10h não é o horário mais forte do sol. A partir das 14h, neste trecho sem árvore, a bolha de calor fica praticamente insuportável.

O professor apontou que o levantamento pode servir como base para diagnosticar pontos da cidade que precisam receber vegetação. O mapa aéreo mostra, ainda, que próximo ao Rio Piracicaba, a temperatura cai porque o trecho é arborizado, ficando em algumas regiões na casa dos 23ºC, enquanto o resto da cidade chega a 30ºC.

O docente defende políticas públicas mais efetivas para a arborização. Fontes de oxigênio, as árvores desempenham um papel essencial na conservação de ecossistemas, biomas e no abrigo de toda a biodiversidade. São responsáveis por proteger os solos e nascentes da luz solar, realizar a manutenção do ar e da umidade, além de servirem como fonte de alimento e abrigo para diversas espécies de animais. "Além do plantio contínuo, temos que evitar podas danosas. Deve-se ter um pacto arbóreo entre prefeitura e empresa de energia elétrica, por exemplo, para preservar as espécies", afirma.

O JP pediu informações à Prefeitura sobre a política adotada quanto à arborização. "Segundo informações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Infraestrutura (Simap), há no sistema viário de Piracicaba, aproximadamente, 100 mil árvores, não levando em conta o número de árvores em áreas verdes, como APPs, parques, praças, Jardins e bosques. No total, em Piracicaba há mais de 330 espaços desse tipo. A cobertura vegetal estimada na área urbana em 2020, pelo Plano Municipal de Arborização Urbana, é de 229 km2 (perímetro urbano). Desse total, 52,19 km2 é de cobertura arbórea. Desde 2021 foram plantadas, em média, 10 mil árvores por ano, número que dobrou em 2023. O plantio é realizado em áreas periféricas da cidade, além de parques", foi informado, em nota.

Ainda de acordo com a Simap, desde 2021 foram plantadas, em média, 10 mil árvores por ano, número que dobrou em 2023. O plantio é realizado em áreas periféricas da cidade, além de parques.

Veja abaixo mapa das áreas mais quentes de Piracicdaba, segundo estudos do professor Demóstenes:

TESE DE DOUTORADO NA ÁREA

A pesquisadora da Esalq Luciana Cavalcante Pereira Rollo fez uma tese de doutorado sobre arborização urbana em Piracicaba. O trabalho tem 10 anos e vai ser publicado agora em uma revista internacional. É o mais completo nesta área envolvendo Piracicaba. "Em 2013 foi executado o inventário florestal por amostragem da população de árvores de rua de Piracicaba, que cobriu 10% do total de quarteirões da área densamente urbanizada do perímetro urbano. Estimou-se que na área densamente urbanizada  existem cerca de 60 mil árvores de rua, das quais 48% são de espécies de grande porte, 19% de espécies de pequeno porte, 28% de espécies arbustivas, 5% de palmeiras. As árvores de grande porte são reconhecidamente responsáveis pela maior contribuição no fornecimento de serviços ecossistêmicos, os quais contribuem para sustentabilidade das cidades e para a qualidade de vida dos seus habitantes. Pensando em política pública, em tese, haveria possibilidade para a substituição de metade da população de árvore de rua pode espécies de grande porte, no entanto, deve-se levar em consideração a competição por espaço e interação com outros elementos do ambiente urbano", explica Luciana, em entrevista ao JP.

Luciana diz que a diversidade de espécies é importante nas populações de árvores de rua, "pois previne a disseminação de pragas e doenças e atrai diversas espécies da fauna por disponibilizar habitats variados". Além disso, segundo ela, "a fauna tem papel primordial na polinização e na dispersão de sementes dentro da paisagem urbana e esses são processos ecológicos fundamentais para a preservação das espécies, conservação ambiental e manutenção do fornecimento dos serviços ecossistêmicos".

Em Piracicaba, as 10 espécies mais frequentes compõem 58% da população total, sendo elas: Murraya paniculata (falsa murta) com 16,26% dos indivíduos; Licania tomentosa (oiti) com 10,36% dos indivíduos; Poinciannella pluviosa (sibipiruna) com 6,44% dos indivíduos; Lagerstroemia indica (resedá) com 6,42% dos indivíduos. Já a Schinus molle L. (aroeira salsa), Magnolia champaca L. (magnólia amarela), Handroanthus chrysotrichus (ipê amarelo), Syagrus romanzoffiana (jerivá), Calistemon viminalis (escova de garrafa), Terminalia catappa (chapéu de sol) somam 17%.

"Ou seja, as 4 espécies mais abundantes somam 40% da população total. Além de serem muito presentes, duas das 4 espécies principais são arbustivas e correspondem a mais de 20% do total da população, que em termos de fornecimento de serviços ecossistêmicos e vantagens ambientais são bem menos efetivas que árvores de grande porte", explica.

"A Prefeitura também fornece mudas gratuitas de árvores aos cidadãos interessados, por meio do Viveiro Municipal. Dentre as 110 espécies diferentes encontradas no Viveiro estão algumas bem conhecidas dos piracicabanos, como os ipês (roxo, rosa, amarelo e branco), o flamboiã (amarelo e vermelho), e árvores frutíferas, como acerola, amora, ameixa, goiaba e pitanga", diz o governo municipal, em nota.

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