
A morte da menina Jamilly Duarte, de 5 anos, em Piracicaba, após ser picada por um escorpião reacendeu uma discussão sobre várias frentes em relação a bichos peçonhentos: os cuidados que devemos ter em casa quando moramos em regiões com incidência desse tipo de animal; a ação do poder público quanto à necessidade de limpeza de áreas e, principalmente, quanto ao possível erro no atendimento da criança, que não recebeu, a tempo, o soro antiescorpiônico como manda o protocolo médico.
O JP contatou especialistas do Instituto Butantan - o maior produtor de vacinas e soros da América Latina e o principal produtor de imunobiológicos do Brasil. Paulo Margonari Goldoni, tecnologista sênior do Laboratório de Coleções Zoológicas, disse que o Brasil tem entre 190 e 200 espécies de escorpiões. “Mas, devido as baixas amostragens nos biomas brasileiros, podem ser em número maior. Em Piracicaba ocorrem os tipos Tityus serrulatus e Tityus bahiensis - esses de interesse em saúde. E os inofensivos exemplares dos gêneros Bothriurus spp. e Ananteris app”, explicou.
E qual escorpião é o mais nocivo? “Se for no Brasil, seriam espécies do gênero Tityus (T. serrulatus, T. stigmurus, T. bahiensis e T. obscurus), em ordem epidemiológica quanto a números de óbitos. Se for em São Paulo, encontramos Tityus serrulatus, T. bahiensis e T. stigmurus”, declarou. Áreas de Piracicaba, portanto, são habitats para os animais que podem causar picadas fatais em humanos.
O pesquisador orienta sobre como devemos proceder ao encontrar um escorpião: “Evitar manipular sem proteção nas mãos (procurar usar luvas de raspa de couro e um pote de plástico de boca larga). Acionar os órgãos competentes tanto para o envio, como para retirada, neste caso, o Centro de Controle de Zoonoses, Polícia Militar Ambiental, Guarda Municipal Ambiental e Bombeiros”.
Em caso de picadas do animal, lavar com água e sabão e, quando possível, emergir o local picado em um recipiente com água morna e procurar atendimento médico.
CASO JAMILLY - Jamilly Duarte morreu no último dia 12, após ser picada por um escorpião. Ela passou pelo primeiro atendimento na UPA da Vila Cristina e morreu horas depois devido à demora para ser transferida para a Santa Casa, onde faleceu. A UPA da Vila Cristina é um dos centros de referência da cidade para casos de picadas de escorpião, no entanto, a unidade não aplicou o medicamento na menina. O caso segue em investigação. A família da criança quer justiça.
Escorpião, aranha, cobra, mariposa: todo cuidado é pouco!
A empresária de Limeira Keila Barboza Gaspar está há uma semana de “molho”. O motivo: picada de aranha. Moradora de Limeira, na Região Metropolitana de Piracicaba, Keila foi em um bar na zona rural e sentiu uma coceira no pé. “Nem vi a aranha. Achei que era um pernilongo borrachudo. Isso foi num sábado. Na terça, meu pé começou a inchar. Na quarta, procurei um ambulatório médico, pois a dor não era normal. Tive febre, cãibra até a virilha e não conseguia pisar no chão. Fiquei com medo de carrapato, mas o médico disse que foi uma aranha-marrom”, conta.
O JP também consultou um especialista em aranhas do Butantan. Antonio Brescovit, diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do instituto, diz que a região de Piracicaba é habitat de três espécies que podem ser caracterizadas de peçonhentas, com possibilidades de acidentes graves: Phoneutria nigriventer (ou aranhas armadeira ou aranhas das bananas); Loxosceles gaucho (ou aranha-marrom) e aranhas do género Latrodectus spp. (também conhecidas como Viúva-negra).
E quais outros animais peçonhentos, encontrados na área urbana, que podem causar riscos a humanos? “Podemos destacar as serpentes peçonhentas, lagartas do gênero Lonomia (Mariposas) e os carrapatos, entre os mais comuns”, explica. No caso de picadas de aranhas e cobras, também é necessário que a vítima procure socorro médico para tomar soro que inibe o veneno.
FOTOS: Renato Rodrigues, Rafael Simões e Denise Candido/Comunicação Butantan