Os mundos em que vivemos

Por André Sallum | 30/07/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Na condição de seres gregários, diariamente compartilhamos a existência com indivíduos e grupos, ao mesmo tempo que individualmente convivemos com nossos próprios pensamentos, sentimentos, lembranças e anseios. Nosso mundo subjetivo coexiste com o que há fora de nós e tudo o que pensamos, sentimos, falamos e fazemos faz parte do universo no qual existimos.

Ao se conscientizar da importância do mundo interior e da sua repercussão, compreende-se que qualquer condição externa, encontro ou relação se dá na base da sintonia e da reciprocidade. Portanto, a qualidade do convívio com os demais e o teor do que se compartilha certamente depende do que se cultiva no interior, pois somente se pode ofertar o que se tem.

Segundo uma lei conhecida por espiritualistas e religiosos, temos aquilo que damos, recebemos conforme houvermos ofertado e somos tratados pela vida em resposta ao modo como tratamos a nossa e a vida de todos os demais seres com quem convivemos. O simples reconhecimento dessa lei e sua aplicação na vida prática muda substancialmente o modo de se comportar e de conviver, pois percebe-se que somente a partir de um interior puro, íntegro e amoroso é que se pode construir relações sadias; portanto, o mundo novo que esperamos será realidade quando tivermos nos transformado suficientemente para melhor.

Vivemos no corpo físico, mas igualmente no mundo interior do pensar e do sentir. Harmonizar todas as dimensões da vida é um desafio e uma arte, e nesse processo, quando nos sentimos perdidos, confusos ou desequilibrados, necessitamos de ajuda para encontrar melhores caminhos ou para nos organizar, colocando cada aspecto da vida interior no seu devido lugar.

Dá-se enorme importância à escolha de uma residência de boa qualidade, ao mesmo tempo em que se vive interiormente sitiado, habitando lugares psíquicos de conflito, desordem, angústia e desespero. De que adianta morar em uma mansão quando se vive atormentado ou infeliz? De que vale a liberdade externa quando se é prisioneiro de culpas, remorsos, medos, vícios e aflições? Escolher os lugares internos que habitamos parece-nos tão importante quanto a escolha de uma moradia adequada, e estar atento aos caminhos interiores que percorremos vale tanto quanto cuidar dos destinos exteriores que elegemos.

Se é importante escolher um local adequado para residir, parece fundamental cuidar da morada interior, na qual estamos permanentemente. Ninguém pode sair de si mesmo nem mudar-se para outro “eu”. Mas, felizmente, é possível transformar a própria realidade para melhor, mediante práticas, atitudes e condutas que harmonizem e curem a vida interna, o que permite descobrir e explorar dentro de si novos e belos lugares.

Compartilhamos o ar, a água, a terra, mas também ideias, desejos e aspirações. Cada um vive cercado pelas próprias criações mentais, pelas crenças que alimenta, pelos conceitos e preconceitos que vitaliza, pelos sentimentos que acalenta, pelos ideais que esposa, pelas ações que realiza. Portanto, cada um constrói, a cada dia, em si mesmo, o paraíso ou o inferno em que habita. Assumir a parcela de responsabilidade que lhe cabe com relação ao próprio destino e cuidar para que ele seja cada vez melhor é não somente possível como desejável, a fim de que, independentemente de condições externas – imprevisíveis e instáveis – se possa cada vez mais reconhecer e cultivar o santuário interior, a fim de habitá-lo como refúgio inviolável e sagrado.

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