O vírus do consumismo

Por Rubinho Vitti | 17/07/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Aparelho de sugar os cravos do nariz, cremes para oleosidade da testa, óleo para diminuição das olheiras, camisetas do meu filme favorito, tênis com estampas da raça do meu cãozinho, meias do meu ídolo musical…

Os algoritmos são infalíveis… a lista acima de produtos que eu supostamente gostaria de comprar aparece todos os dias em minhas redes sociais, reflexo do meu eu -consumidor. É como se as vitrines das lojas agora fossem personalizadas para cada cliente e jogada na cara dele a cada clique na internet.

E se os algoritmos trabalham muito bem para vender pela internet, a Covid-19 deu uma ajudinha básica. O e-commerce cresceu 75% em meio à pandemia. Afinal, se não estávamos (ou não estamos) podendo frequentar lojas, vamos comprar virtualmente, não é mesmo?
não existe nada contra isso! Mas, será que as compras online foram migradas para o que realmente gostaríamos de comprar ou acabamos infectados com o vírus do consumismo? Ou seja, se não podemos fazer nada, que sejamos felizes comprando.

No Brasil, o número de lojas virtuais aumentou em 40,7% no último ano, totalizando 1,3 milhão de novas lojas digitais no Brasil.
E se as compras online cresceram, cresceram também os golpes… e muita gente perdeu dinheiro com clonagem de cartão de crédito ou compras em sites fantasmas. Fraudes aumentaram 170% entre março de 2020 e o mesmo mês de 2021, segundo o Procon.

Comprar sempre foi uma válvula de escape e, com a pandemia, se tornou um refúgio ainda maior. Com as atividades reduzidas e a solidão, comprar online parece ser a melhor sensação que você vai ter em um dia de confinamento.
A ansiedade da espera pelo produto, a campainha tocando com o pacote, você abrindo e se deparando com aquele presente para você mesmo, o cheiro do novo… Tudo isso deixa a gente feliz, instantaneamente.

Comprar pode ser um prazer parecido com o das drogas. Mas, ao tentar evitar a angústia, preencher carrinhos online pode ser um caminho sem volta para a compulsão. Sintomas disso são o estresse pós-compra ou esconder de amigos e parentes produtos comprados para evitar críticas, e até devolvê-los depois da compra por sentir culpa.

E dá-lhe desperdício. A gigante de vendas online Amazon foi centro de uma polêmica semanas atrás depois que a Independent Television (ITV), do Reino Unido, divulgou uma reportagem afirmando que a empresa destrói milhares de produtos não vendidos.

Sabe aquela calça que não serviu e você devolveu, gratuitamente, para a empresa? Segundo a reportagem, ela estaria nessa escala de desperdício. Fora isso, a promessa de entrega de produtos de forma rápida também gera muita poluição. Ou você acha que receber seu sapatinho seria uma atividade ecologicamente correta?

Segundo o World Economic Forum, com o aumento do e-commerce, o número de veículos nas 100 maiores cidades do mundo deve aumentar 36% em uma década, com o dióxido de carbono subindo em 32%.
Mas mesmo em pandemia, há como comprar com responsabilidade. Que tal trocar o prazer da compra por outros? Há estudos que mostram que atividades de jardinagem, por exemplo, podem preencher o vazio de forma muito mais eficaz do que o shopping online.

Se a necessidade é mesmo comprar, procurar por lojas locais é a forma ideal de melhorar essa relação entre comprador e vendedor, no caso, seu vizinho. Muitos oferecem produtos de melhor qualidade e serviços próprios de delivery, além de reserva online e retirada no local.
Pequenas mudanças no seu comportamento como consumidor podem ajudar mentalmente e economicamente. E se você esqueceu, vale também lembrar: comprar demais custa caro!

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