Um mês sem Paulo Gustavo

Por Rubinho Vitti | 05/06/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Há um mês, 411.854 brasileiros morriam em decorrência da Covid-19. Entre eles estava Paulo Gustavo, uma figura para lá de carismática, das poucas personalidades que conseguiam unir a polarizada população do Brasil com a melhor ferramenta existente para isso, o riso.

Com Paulo, também se foram Dona Hermínia, Bicha Bichérrima, Senhora dos Absurdos, Valdomiro Lacerda, Mulher Feia, entre muitos outros que já estavam no rol de personagens do humor brasileiro. Não é exagero dizer que Paulo Gustavo foi o Chico Anysio de sua geração.
E todo mundo tem uma história para contar quando o assunto é Paulo Gustavo. Dona Hermínia, em especial, foi responsável por eu conhecer o trabalho dele mais de perto e ter um carinho pela personagem.

Isso porque aquela mulher alta, exagerada e desbocada -- inspirada em Déa Lúcia, a própria mãe do ator para o espetáculo Minha Mãe é uma Peça, sucesso nos palcos e depois nos cinemas -- é também o nome da minha mãe.

Muitas vezes, quando digo que sou filho da Hermínia para alguém que não a conhece, a pessoa dá risada achando que eu estou me referindo à personagem. É claro que a minha Dona Hermínia é muito diferente da dele, mas confesso que em alguns pontos elas até se parecem.
Paulo Gustavo tinha muito disso mesmo, em levar para as telas, seja de uma sitcom na TV ou na comédia pastelão do cinema, muito do que vivemos em casa, entre quatro paredes.

Isso explica muito a comoção nacional em perder um ator tão talentoso e que não precisava de palavrões, jargões ou cacoetes para fazer rir. E muito menos ofender alguém! Pelo contrário.
Por ser homossexual assumido, ele não tinha firulas ao tratar do assunto, transformando o que poderia ser uma ofensa para gays e lésbicas, por exemplo, em riso honesto desse próprio público.

Muitas de suas esquetes e piadas pareciam ser voltadas exclusivamente para os LGBTQs. Afinal, como dizem por aí, "só sapatão e viado podem chamar sapatão e viado de sapatão e viado". Entendeu?
Falando nisso, Paulo Gustavo com seu marido e filhos foram (e são) uma vitrine sobre a vida de uma família nada convencional para a sociedade brasileira moralista e isso acabou sendo de uma importância absurda na visibilidade das bandeiras LGBTQs no Brasil.

Por tudo isso, Paulo Gustavo não foi apenas uma pessoa que morreu por causa da Covid-19. É uma perda de capital humano. Não se foi apenas uma vida, mas tudo o que ele representa.
Há um mês atrás, Paulo Gustavo nos deixava junto com 411 mil brasileiros. Cada um deles tinha seu talento, sua obra, seus amores. Hoje, já são 469 mil vidas perdidas no Brasil para uma doença em que casos graves e mortes já podem ser evitados com vacina.

A vacina que Paulo Gustavo não tomou a tempo de se salvar ainda é escassa no Brasil. Só ela pode acabar com a pandemia, dar liberdade às pessoas de sair às ruas, de comprar nas lojas, de visitar a família e amigos sem medo.

Paulo Gustavo sabia quem cobrar por mais vacinas. Eu, você, sua família, os artistas que você gosta, as associações que protegem o seu comércio e sua empresa… Todo mundo deve cobrar mais vacina para que mais nenhum talento -- famoso ou não -- seja vítima dessa doença. Só a vacina salva -- pessoas e a economia!

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