Para não maldizer o isolamento

Por David Chagas | 22/03/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Vez por outra alguém me pergunta como tem sido viver na pandemia ao longo deste ano suportando protocolos impostos e vivendo isolamento social? Garanto que hánormasmais incômodas que estas. Desrespeitar orientações rem benefício da vida e da saúde revela falta de estatura moral, mesquinharia.

Quando, há um ano, os dias começaram a repetir-se nos infortúnios apresentados, optei por buscar alternativa que me permitisse entender a vida em novo contorno. Não dei crédito a nada que não chegasse pelo viés da ciência e, mais que nunca, entendi que a palavra poderia ser o instrumento de ação em benefício de todos.Ao pressentir o cenário que se desenhava ano passado, obriguei-me a alternativas para fazer mais leve o isolamento. A coisa começou com foto enviada por amiga, motivo para desejar-me bons dias. Era flor que desperta para curta vida, à noite, antes de transformar-se em fruto.

Ao responder, os anjos de Deus me ditaram pequeno poema com que pude retribuir os votos. Esparramou-se pelas redes sociais. Passei a receber fotos, até mesmo de quem não conhecia, sempre na expectativa de poema.

Alguns pensadores religiosos chegaram a acenar para um novo comportamento social, forma de livrar-se da devassidão que, para muitos, tomou conta do mundo nos últimos anos. Por certo não quiseram olhar para a fome e as injustiças sociais. Contra isso não houve, até aqui, uma só voz que se levantasse.

No Brasil, por exemplo, em meio à pandemia, houve eleições municipais. Quem sabe, n este cenário de horror, oferecessem novas opções de escolha, oportunidade para surgimento de novos líderes ou, ao menos, nova visão política? Que nada! Ninguém com liderança capaz de comandar e coordenar outros tantos, com ações e palavras cuja influência sobre o pensamento e o comportamento dos cidadãos trouxesse alento e esperança. Passado o pleito, senão pior, igual. Nenhuma mudança. Os mesmos erros, os mesmos vícios, a mesma desfaçatez.

O tal vírus mortal chega a parecer inexpressivo diante do que mostra a vida. A Covid-19 tem dizimado famílias, levado consigo a base de seu sustento. Os governantes seriam os que poderiam enfrentar a doença com instrumentos capazes de minimizar sofrimento. Como se não bastasse o que vem acontecendo aqui, ver repetir-se todos os erros apontados pela história e imaginar que não serviram para nada, aumenta, no isolamento, a angústia. Fujo disto, lendo algo que me instrua e me dê prazer. Há quem não acredite neste bem estar que a leitura traz quando há, mesmo ao pôr do sol, desejo vivo de conhecimento. Quanto ajuda suportar o mal que se abate sobre o mundo.

Rubem Braga, em artigo de janeiro de 1954, escreve sobre o país. Diz que vai mal o pobre coitado. Vai mal porque seus ministros não sabem nada do que têm a fazer e, se sabem, não fazem. Servem apenas para fazer tudo o que o mestre manda. Deveriam ter ficado nos jardins da infância brincando de cobra cega.

Irritado, o notável escritor comenta que Vargas criara novo ministério, o da Saúde, e trouxera para ele novo ministro. Imprudência manifesta – afirma. “Aí temos o homem a corcovear a esmo. Trazendo para o plano federal o que há de pior na espantosa politicalha fluminense; entrou para o governo como quem entra em Caxias em noites de Tenório”. Como gostei desta expressão final. Para entendê-la, obriguei-me a ler outra dezena de artigos. Se ajuda, digo que o dr. Queiroga chega ao governo da mesma forma, cuidando da pandemia como mimimi ou coisa de maricas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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