Um ano da Covid-19

Por Rubinho Vitti | 15/03/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Nada a celebrar, mas é preciso lembrar. Já ultrapassamos os 365 dias do primeiro contágio (registrado oficialmente) pela Covid-19 no Brasil e, como você já deve saber, após um ano, as coisas estão piores do que o pior momento da doença.

Há um ano, o Brasil que respeita as regras de higiene sanitária está brigando com o Brasil que finge que nada está acontecendo. O Brasil que ouve a medicina e a ciência briga com o Brasil que nega a existência da doença. E tem ainda o Brasil que chora por seus mortos e o Brasil que grita "mito"!

O inenarrável "mito" desse Brasil nebuloso é tão ególatra que não suporta ver que a Covid-19 seja mais importante nas capas de jornais do que seu nome. Talvez seja por isso que, desde o começo, prefere ele negá-la e diminuí-la para tentar aparecer mais do que ela.

Se o mundo todo quer salvar o planeta desse mal que o acomete, o chefe-executivo do Brasil vai entrar para a história como o antagonista dessa luta. Ou, se preferir, podemos apenas usar o prefixo da palavra.

Desde o primeiro momento, ele ignorou todas as pesquisas e previsões científicas, afirmando que a Covid-19 seria uma gripezinha e que a previsão era que o coronavírus mataria menos que a H1N1, que teve 800 vítimas fatais no país. Um ano depois, o Brasil já superou 260 mil mortos.

Essa retrospectiva grotesca que apresento abaixo é necessária para lembrar, sempre, que aquilo sentado na cadeira mais importante da política do país não tem liderança, carisma, respeito, alma ou sequer sanidade.

Março, 2020, 11 mortos. "Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, ta ok?".

Abril, 2020, 5.017 mortos. "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre".

Maio, 2020, 17 mi mortos. "Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína".

Junho, 2020, 30 mil mortos. "Lembro à Nação que, por decisão do STF, as ações de combate à pandemia ficaram sob total responsabilidade dos Governadores e dos Prefeitos" (afirmação equivocada, já que a decisão colocava estados e municípios com poder de decisão, mas não tirava a responsabilidade do governo federal).

Julho, 2020, 66 mil mortos. "Não precisa entrar em pânico. (A covid) é como uma chuva, vai atingir você".

Agosto, 2020, 100 mil mortos. "Vamos tocar a vida e se safar desse problema".

Setembro, 2020, 140 mil mortos. "Parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população".

Outubro, 2020, 150 mil mortos. "Da China nós não compraremos. É decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população pela sua origem", sobre a vacina da fabricante chinesa Sinovac.

Novembro, 2020, 160 mil mortos: "Tem que deixar de ser um país de maricas", sobre a possibilidade da segunda onda do coronavírus.

Dezembro, 2020, 180 mil mortos. "Se tomar vacina e virar jacaré não tenho nada a ver com isso".

Janeiro, 2021, 215 mil mortes. "O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada. Teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos".

Fevereiro, 2021, 255 mil mortes. "Começam a aparecer estudos sobre o uso de máscaras. Num primeiro momento, uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais para crianças".

Março, 2021, 260 mil mortes. "Para a mídia, o vírus sou eu".

A maneira como a Covid-19 está sendo resolvida no Brasil não choca, porque é essa a maneira que uma boa parte dos brasileiros escolheu que as questões seriam resolvidas ao votar no representante do Executivo que hoje está no poder. Era sabido que a forma de gerir o país seria assim, nos atropelos, na incapacidade, na mentira e na crueldade.

É pior que um vírus, é um câncer!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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