“In Extremis” (59) - Nosso general caipira

Por Cecílio Elias Netto | 21/07/2020 | Tempo de leitura: 3 min

E lá me chegou a informação: “O General Edson Diehl Ripoli assumirá a função de Comandante da II Divisão de Exército em São Paulo”.

Então, mais outra vez na vida, vi-me diante da dúvida: as emoções nascem do cérebro ou do coração? Pois, fui envolvido por uma onda de lembranças, de recordações, um misto de alegria e de saudade, de orgulho e de sentimento de ausência. Ora, o General Edson Diehl Ripoli é aquele menino, o adolescente de cabelos ruivos, de sardas no rosto, de olhos vivos e curiosos, o filho da Aparecida Diehl e de Romeu Italo Ripoli, garoto com quem tanto conversei e cujo desenvolvimento acompanhei por diversos anos… E, agora, é, o menino, Comandante do todo poderoso II Exército, de São Paulo? Os árabes diriam: “mactub”, estava escrito.

Sim, há que se pensar nisso: mactub. Mas, também, nas diversões da Vida, que parece rir-se dos seres humanos, de nossas tolices, de códigos sociais sempre criados por aqueles que detêm a força. Não creio em predestinação. Se o fizesse, estaria renegando o livre arbítrio humano, a força da vontade pessoal. Por isso, creio na inspiração, naquela força que o homem recolhe do Mistério que expira. O sagrado expira, o homem sensível sabe inspirar.

O menino Edson Diehl Ripoli é testemunho vivo, exemplar, referencial de personalidade própria, de vontade de vencer, de luta por um ideal que parecia ser apenas sonho. Em meu entender, não foi predestinado às conquistas que lhe enriquecem a história pessoal. Buscou-as, lutou por elas. Venceu obstáculos os mais absurdos, ignorou preconceitos e, acima de tudo, acreditou na Vida! Desde a infância, ele entendeu: quem vive por um ideal encontra a Justiça. E, nele, parece-me ter ecoado funda e profundamente a sabedoria de Gonçalves Dias, sua revelação: “Não chores, meu filho, não chores / Que a vida é luta renhida / Viver é lutar”. Edson viveu e lutou. E venceu.

Confesso não saber se vejo, se sinto, se apenas imagino. Tenho, porém, a quase certeza de, num lugar do infinito, ver o pai do menino chorando de alegria, enrolando diversos cigarros de palha, deixando cinzas cair no chão de outra realidade. E fingindo querer mais: “General do II Exército é pouco! Ele tem que chegar à Presidência da República. E, depois, fazer um levante para se tornar Imperador Sul-Americano”. Tenho certeza disso. Pois o pai do menino foi um dos meus amigos inesquecíveis, o mais polêmico dos homens, o homem controvertido, o mais complexo, inteligência absurda, o formato realmente humano do anjo e do demônio. Refiro-me a Romeu Italo Ripoli, o Ripoli que, com a notícia empolgante sobre o filho Edson, ressurgiu como que fisicamente em minha vida.

Caramba! É verdade, verdade cristalina: “recordar é viver”. E reviver. Tudo me parece tão nítido que o ontem e o hoje se me mesclaram naquele espaço sagrado, não sei se no cérebro, se no coração. E as imagens, as lembranças e recordações eu diria serem agridoces. A doçura de compreender que tudo aquilo existiu; a acridade de saber que, por ter existido, acabou. Quase escrevi ter sido, o daquela época, um outro mundo. E não sei porque não o fiz. Pois, na verdade, foi, sim, um outro mundo. Os mundos acabam, dando lugar a outros. O que chegou é o mundo do menino Edson Ripoli – o caipiracicabano, filho de Romeu e de Cidinha – e de uma geração de homens forjados por educações sérias, universais.

A conquista é gigante. O garoto Edson não mais irá cantar o “marcha, soldado, cabeça de papel; quem não marchar direito vai direto pro quartel.” Ele, agora, protege o Brasil. Para orgulho de Piracicaba.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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