Na paixão só enxergamos no outro o que gostamos de ver

Por Luiz Xavier | 04/06/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Reflexão da amiga, psicóloga e terapeuta sexual, Arlete Gavranic: Nesse longo período de isolamento social, quem está só ou sem relacionamento, vive uma carência intensa e isso provoca muitas buscas online por produtos eróticos e sites de relacionamentos.

Esses recursos permitem que pessoas possam se conhecer, “paquerar” e seduzir. Para alguns, é só um treino de sedução ou um estímulo com um visual erótico ou nudes. Mas para muitos, a oportunidade de conhecer outras pessoas, mesmo online, nesses dias de carência. A esta carência podem se somar outras: afetivas, de autoestima, autoconfiança e acabar gerando um apaixonamento.

É uma delícia sentir-se apaixonado(a): faz bem, pois acorda o corpo, o coração bate mais forte, só pensamos naquela pessoa.

A questão é que essa paixão nos faz distorcer a realidade: enxergamos só o que gostamos de ver. E é nesse período que vivemos atitudes perigosamente impulsivas, movidas pelo prazer de realizar a paixão, uma louca atração corporal que faz querer estar junto o tempo todo. Podemos fazer loucuras de amor, até querer casar! Biologicamente nosso corpo vive essa ‘paixão‘ bioquímica (aumento de dopamina – prazer - no cérebro) por um prazo de meses até mais ou menos dois anos.

Quando a dopamina diminui as coisas podem mudar e começamos a ter uma percepção mais realista e aí começamos a enxergar o outro como ele é. Podemos não gostar do que estamos enxergando. Aquilo que parecia ser alguém sempre atencioso e sempre disponível pode ser percebido como alguém grudento ou, talvez, descompromissado.

Ao invés de continuar achando a pessoa extravagante na sensualidade, essa pode ser percebida como vulgar; ou aquela pessoa ‘cuidadosa’ em excesso com seu bem-estar, com suas roupas, com o seu ir e vir pode ser percebida como controladora.

Quando a dopamina diminui ocorrem três situações:

1ª Olhamos para o outro e nos chocamos com tantas diferenças. Por vezes, não conseguimos entender como vivemos essa relação. Nesta primeira situação, rompemos e não desejamos nem encontrar socialmente essa pessoa, temos até vergonha ou raiva de ter vivido esta paixão.

2ª Percebemos muitas diferenças, veremos coisas que não gostamos ou que não mobilizam nossa vontade de continuar um relacionamento com essa pessoa, por pensar aspectos da vida de maneira diferente, por não ter mais atração, por não perceber grandes afinidades. Talvez fique uma lembrança carinhosa de uma gostosa paixão.

3ª Também podemos olhar para essa pessoa, e enxergar que ela não é perfeita, mas que mesmo com as suas características e as diferenças que possam existir, acreditamos que esse sentimento e essa relação valem a pena ser vividos como projeto de vida. A isso podemos chamar de amor, um sentimento intenso, menos impulsivo, mais consistente e que nos mobiliza sermos nós mesmos, nos faz acreditar num caminhar juntos com afinidades e diferenças.

Nessa fase de isolamento social, principalmente quando estamos carentes, e pouco confiantes na nossa autoestima, precisamos ter certos cuidados para poder viver o gostoso da paixão.

Dicas para curtir a paixão:

1ª Não deposite no outro todas as expectativas de sua vida.

2ª Desfrute do prazer da paixão, do encantamento, mas não se perca de você, não se afaste de seus objetivos.

3ª Não ignore totalmente o que amigos ou familiares possam te sinalizar.

4ª Não ignore sua percepção que pode aparecer em alguns momentos te indicando um alerta.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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