Ameaça Medonha

Por José Faganello | 08/04/2020 | Tempo de leitura: 2 min

“O medo é um dos soberanos da humanidade. É quem possui o maior domínio de todos. Ele faz-nos embranquecer como velas. Fende cada um de nossos olhos em dois. De medo foi criado bem mais do que qualquer outra coisa. Como força moldadora vem logo depois da própria natureza”. (Saul Bellow)

Aprendemos muito cedo que somos mortais. Ao estudar história tomamos conhecimento de civilizações desaparecidas completamente e impérios, aparentemente imbatíveis, soterrados com seus deuses, leis, palácios e população.

Babilônia, Esparta, Macedônia, Império Romano, Constantinopla, Hunos, etc., são nomes desconhecidos pela maioria e vagas lembranças para os que os aprenderam.

Esses fatos evidenciam que qualquer civilização tem a mesma fugacidade que uma vida.

Não há, portanto, a segurança de que, a consciência que construímos ao longo dos tempos, os valores estabelecidos, magníficas obras literárias e grandes homens, possam persistir.

Podemos nos ancorar, esperançosos, em algumas espetaculares superações, como foram os casos das duas últimas grandes guerras a ameaçarem o fim da civilização na Europa, assim como a volta por cima de crises econômicas como a de 1929.

Esses fatos afetaram principalmente o lado material, com incalculáveis prejuízos, mas que foram superados.

Evidentemente, outras crises econômicas ocorrerão, com certeza, superáveis. Já, uma nova grande guerra poderá ocasionar o fim da vida no planeta.

É essa ameaça que impediu até agora um confronto de tal dimensão. O medo, nesse caso, está sendo fundamental.

A ameaça de meter medo é a da crise moral e intelectual ou, como muitos preferem, espiritual.

Está claro a incapacidade do conhecimento para salvar o que quer que seja; a ciência está mortalmente atingida em suas aspirações morais e, podemos dizer, desonrada por suas perigosas aplicações. As crenças, todas, estão por demais abaladas por atos imorais por parte de muitos de seus arautos, pela mercantilização da fé, pelas divergências de cristãos contra cristãos, muçulmanos contra muçulmanos; mesmo os céticos estão desnorteados.

O agente principal, aquele que comanda tudo nesse planeta, maravilhosa obra da natureza, o homem moderno, rompeu os elos com o passado. Vive um presente fugaz, num individualismo imposto pela propaganda. Não poucos abraçam uma fé, seguem um chefe ou um partido. Vivem numa atmosfera de mentira e sujeitam-se até a cometer crimes pela causa que acham justa.

Grave problema em instalação sutil e continuada da cultura da permissividade. Ela legitima um instinto a desencadear-se sem freios.

Se não houver uma radical mudança, modificando o rumo tomado, no qual o povo é conduzido a servir suas paixões sem escrúpulos, tendo como modelos seus dirigentes. Se não houver um aprimoramento de seus sentimentos e propósitos e uma sadia consciência moral, o futuro do planeta será aterrador.

Para criar uma nova dúvida quanto ao que está para acontecer a natureza resolveu manifestar-se com suas incontroláveis agressões, agora com maior freqüência.

Nesse momento a ameaça terrível está sendo a Coronavírus, que surgiu, não sabemos como e se espalha levando de roldão centenas ou milhares de vítimas.

Mesmo assim, nossos maiorais no lugar de se unirem para descobrir mais depressa como debelar esta praga, se digladiam e igualmente não abrem mão de seus privilégios inacreditáveis.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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