Devaneios sob limites

Por José Faganello | 01/04/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“A medida do amor é amar sem limite” (Santo Agostinho).

Para o ser humano é muito palpável o limite relacionado com seu espaço geográfico, paisagem e território.

Habitamos em um determinado meio ambiente, que se relaciona com outros. O conceito de lugar está ligado aos espaços, que nos são familiares e fazem parte de nossa vida. Ao conjunto de espaços, marcados por diferentes naturezas, que passaram por sucessivos processos históricos, denominamos espaço geográfico, nos quais habitam diferentes povos.

Sob esse prisma, a nacionalidade de qualquer pessoa é mero acaso, portanto não faz sentido a discriminação e a xenofobia.

A representação visível de vários aspectos do espaço geográfico chama-se paisagem (a porção do lugar que podemos ver). Nela estão inseridos elementos naturais (relevo, vegetação, clima, rios) e os elementos humanos e culturais, que, geralmente, diferem de um lugar para outro, embora, com a globalização esteja em marcha uma uniformização.

Os grandes avanços científicos alcançados pelo homem proporcionaram-lhe condições de intervir espantosamente no meio ambiente, modificando a maioria das paisagens terrestres. Enormes montanhas, distâncias e dificuldades de comunicações, deixaram de ser obstáculos.

Esses avanços tecnológicos, porém, não foram suficientes para desmistificar conceitos indefensáveis quanto à ideia de fronteiras, territórios e territorialidade. Ideias essas enraizadas desde tempos imemoriais que “dividem povos, separam nações e distanciam culturas. Essas barreiras imaginárias já foram cenários de batalhas sangrentas, nas quais pessoas se digladiaram com o único objetivo de ampliar o domínio geográfico de seus países.

Daí a ideia de as fronteiras serem reconhecidas como linhas vermelhas. E entrar no território alheio pode ser uma afronta” ( Os Caminhos da Terra, set.2000,ano 9,n.9.p.40).

Um território delimitado sob o domínio ou influência de vários agentes políticos, econômicos e sociais, chamamos de territorialidade. Na política, o território é o espaço nacional controlado por um Estado Nação, mas organismos econômicos mundiais, grandes empresas transnacionais e até mesmo organizações criminosas exercem a territorialidade, ou domínio, em várias regiões do espaço geográfico.

Um dos sonhos mais acalentados por todos é o de sermos livres. Qualquer limite desautoriza esse sonho, mas não devemos desrespeitar os direitos dos outros.

Geograficamente falando, o Universo é o que extrapola todos os limites conhecidos, pois abarca tudo o que existe fisicamente, a totalidade do espaço e tempo e de todas as formas matéria e energia.

Ptolomeu colocou a Terra como centro do Universo, e houve época em que, ao discordar dessa tese, corria-se o risco de ser condenado à morte.

Copérnico conseguiu demonstrar que, na realidade, a Terra girava em torno do Sol e ele passou a ser o centro do Universo.

Para nós, olhar a imensidão do céu, as incontáveis estrelas, ou mesmo, aqui em nosso planeta, a grandiosidade das montanhas, do mar, das florestas, tira-nos a noção de limite.

Para nos apequenar ainda mais, as recentes observações astronômicas afirmam que nosso Universo está em acelerada expansão e, não se pode saber se a dimensão do espaço sideral é finita ou infinita, além de garantir a existência de outros Universos.

Saindo do mundo da Lua, como meu avô dizia aos netos ao perceber que estavam com o pensamento distante e alheio a tudo, vamos falar dos limites mais presentes em nosso dia a dia.

Para se viver em sociedade é necessário obedecer regras, pois o comportamento humano nunca é totalmente previsível. Vários fatores influenciam a maneira de agir das pessoas: biológicos, fisiológicos, ambientais, socioeconômicos, antropológicos, culturais e psicológicos.

O ideal seria conseguir uma justiça que se empenhe em corrigir o transgressor, eliminar sua deficiência, não apenas puni-lo. Mas, em um pais que não consegue fornecer boa educação, saúde e segurança, enquanto deixa livres homens públicos comprovadamente prevaricadores, que, mesmo quando condenados, raramente são presos, não devolvem o que desviaram e, absurdo, alguns são aposentados com o salário integral, é um sonho utópico.

De todos esses limites, ao começar pelo sideral, que nos torna meras formigas no espaço, passando pelos territórios, que não deveriam ter fronteiras segregadoras, precisamos acatar que eles existem e que não devemos desrespeitar os ditames das leis e das regras; nosso empenho deve ser, jamais limitar nosso amor.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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