A dúvida

Por José Faganello | 19/02/2020 | Tempo de leitura: 2 min

“Nossas dúvidas são traidoras/ E nos fazem perder o que com freqüência poderíamos ganhar/ Por simples medo de arriscar” (Shakespeare).

Iraides sempre foi uma pessoa decidida. Ao fazer seu curso de segundo grau enturmou-se com algumas coleguinhas que nada queriam com o estudo. Companheiras razoáveis pecavam pela aversão ao trabalho intelectual. Percebendo que estava sendo envolvida por elas e amargando fraco desempenho escolar nos dois primeiros meses de estudos, decidiu-se mudar. Estabeleceu uma clara divisão entre sua vida de estudante e a de lazer. Continuou amiga das “estudantes” relapsas, mas separou-se delas na sala de aula e não mais participou com elas das reuniões de estudos em vésperas de provas. Passou a sentar-se ao lado da melhor aluna, Ana Maria e com ela passou estudar para as provas. Os resultados não se fizeram por esperar. Suas notas foram melhorando, seu desempenho atingiu a perfeição e coroando sua sábia decisão, conseguiu entrar no curso universitário que escolheu na primeira tentativa e sem ter de frequentar cursinho.

Na Universidade continuou no mesmo ritmo e com a mesma responsabilidade. Realizou um brilhante curso e entrou com distinção para a pós-graduação.

Seu primeiro namorado embora fruto de um encontro carnavalesco, era um dos mais destacados alunos de outra universidade, situada em uma cidade não muito distante. Belo rapaz, inteligente, poliglota, viajado e já tendo morado no exterior, não conseguia, no entanto, livrar-se de dois defeitos insuportáveis: um narcisismo exacerbado e um egoísmo avassalador. Iraides rompeu com o namoro.

Como válvula de escape começou a praticar esportes. Seu físico tão atraente que passou a ser cortejada por vários rapazes. Não queria ter nova decepção e resolveu primeiro terminar a pós-graduação para depois inclinar-se por alguém, romper novas promessas, precipitar decisões ou mesmo retardá-las na espera.

O coração não sabe de obrigações, nem de deveres. Ele, geralmente nos faz que o amor acalentado decida-se a corresponder.

Após paciente espera, que outra não teria conseguido aguentar, conseguiu que o amado se acercasse dela. Continuou, no entanto lento como uma tartaruga e incapaz de entabular uma conversação consistente e agradável. Chegou ao cúmulo de afirmar-lhe que evitou até aquele momento envolver-se com qualquer mulher porque prezava muito sua liberdade e temia ter que dividir com alguém tudo aquilo que conquistara até então.

Enquanto isso, outro pretendente, com demonstrações de refinada sensibilidade e de excelente papo, tenta conquistá-la. Ela começa a sentir a diferença. Não se sabe se está pensando em desviar seus sentimentos para este novo alvo ou apenas usá-lo para causar ciúmes no amado. Se esta for a intenção, está perdendo tempo, pois com acerto afirmou Benjamim Franklin – quem se apaixona por si mesmo não vai ter rivais. O narcisista, se avassalado pelo egoísmo, jamais amará alguém – ama a si próprio e o próprio conforto.

Se, de fato, o simples refletir é negar o que se crê, não há receita para os envolvidos. Shakespeare, o grande entendedor da alma humana constatou que não devemos ter medo de arriscar. Quem é jovem tem mais tempo para consertar o erro caso arrisque erroneamente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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