O Clima em Crise

Por David Chagas | 16/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

As chuvas torrenciais que têm caído nos estados do sudeste encontraram explicação capaz, senão de justificar, ao menos de permitir cobrar efetivas providências ao chamado aquecimento global a que muitos insistem em não acreditar.

Antes, quando me pediam alguém que desacreditasse nas evidências todas oferecidas pela natureza, vinha-me de pronto o nome do presidente americano. Hoje, há outros tantos em sua companhia, desrespeitando acordos firmados em diferentes datas e países e, fazendo das redes sociais, espaço para estimular iguais condutas.

Os acordos podem não resolver, mas alertam para a ameaça da mudança do clima e reforçam a capacidade que deve ter cada país para lidar com impactos decorrentes delas. O Brasil, por exemplo, desde 1996 tem, por quem assinou em seu nome, o compromisso oficial de efetivar as contribuições sugeridas, ampliando, com isso, a participação da bioenergia sustentável na sua matriz energética, além de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas. Junte-se a isso o compromisso de alcançar participação estimada em 45% de energias renováveis na composição da energia transformada, produzida e consumida até 2030.

Nestes dez anos que nos separam da data limite em que nosso país se compromete a reduzir, já em 2025, em até 66% as emissões de gases e em 75% a intensidade destas emissões, parece-me ser o momento de tomar consciência da gravidade do que ocorre sem disseminar ideias contrárias à situação que se mostra viva em toda parte do mundo, a cada estação do ano.

Ao verificar fundamentos na relação de compromissos assumidos pelo Brasil, não haveria, certamente, um só brasileiro incapaz de sentir-se orgulhoso de seu país, ainda em desenvolvimento, engajado, de forma grandiosa, na preocupação que toma conta da grande maioria dos países no mundo, para assumir junto às Nações Unidas, posição de destaque, ganhando, com isso, respeito de seus pares, além de revelar, com isso, o envolvimento dos brasileiros em favor de causa global.

Nesta semana, o recorde de temperatura registrado na Antártica, quando, na ilha Marambio (Seymour Island), o cientista brasileiro Carlos Schaefer aferiu temperatura superior a vinte graus centígrados, trouxe preocupação a quem se preocupa com a saúde do planeta e deveria passar a exigir dos chefes de Estado e de Governo, dentre eles, o nosso, cuidados em relação ao aquecimento global e respeito ao compromisso assumido por todos os que assinaram o Acordo de Paris, dentre eles, o Brasil.

O que se tem visto, no entanto, é a urgente necessidade de desprestigiar as organizações preocupadas com o meio ambiente, a fala dos que, como o Papa Francisco, por exemplo, autoridade cuja voz é ouvida nos quatro cantos da terra, comenta sua preocupação com a nossa Amazônia. O Papa, autoridade respeitada mundialmente, encontra no Presidente da República, severa oposição numa demonstração desnecessária de posse ao ver que Francisco usa pronome que, sugere, no entendimento da atitude repulsiva do presidente, direito em relação à região que, todos sabemos, é território nacional, mas patrimônio de toda a humanidade.

Entendo que Francisco, o Papa, propõe, com o uso do possessivo, compreensão objetiva e universal de tudo o que deve merecer atenção especial do Estado, não só do governante de plantão no país em que está localizado, mas de todos aqueles que se responsabilizam por causa de interesse mundial. Sua Excelência poderia ter sido mais compreensivo com Sua Santidade, agradecendo a intervenção, considerando o pertencimento sem desconsiderar a atenção e o cuidado de todo o planeta a tão expressiva riqueza, cuja herança, isto sim, é exclusivamente nossa.

Ou no Brasil, onde está a Amazônia em sua maior extensão, haverá quem não acredite ser região com força local para lutar pelo direito dos mais pobres, dos povos nativos, dos índios, de modo a ter sua voz ouvida por quantos sejam responsáveis por preservar sua dignidade e sua vida?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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