Bebé Salvego em Sampa

Por David Chagas | 26/01/2020 | Tempo de leitura: 3 min

A cidade somos nós. A cidade está em nós. Eu, nela, você, todos, nela. Se nasceu aí, pouco importa. Importa ter-nos recebido sem preconceito algum e aceitado que caminhássemos por suas ruas como se fôramos todos filhos seus. Se bem nos trata, pode até ser a Senhora do nosso destino, convidando-nos a estar sempre.

Foi assim que trouxe para dentro de mim Piracicaba, Rio Claro, Quito, Maputo, Manágua, Lisboa e outros tantos sítios onde vivi e tive o pão de cada dia. A cidade é de quem está nela e faz por ela e soube entendê-la e comparti-la. Ela, por si, se divide em tantos quantos somos e oferece, a cada dia, o sol que nos amorena e aquece; a noite a nos cobrir de estrelas; o verão pesado, tecido de calores amontoados em dias que ainda não eram nosso ou inverno que pede café e leite quentes clamando pelo seu calor.

Bobagem terem dividido um dia planeta que pertence a todos. Tolice maior ainda fatiar um país estabelecendo fronteiras e limites. Tão melhor se cada um pudesse estar onde bem quisesse. A cidade, a nossa cidade! Qual? Onde estamos. Onde reconhecemos, no outro, o semelhante e o abraçamos sorrindo.

Por que escrevo isso? Por saber que hoje, Bebé Salvego sai de Piracicaba para estar em São Paulo, participando dos festejos da capital. Ela será São Paulo, hoje! E me levará consigo. E a todos que têm orgulho de sua voz e de suas interpretações já consagradas. Na sua graça, a graça da cidade. No seu olhar, a luz da cidade. No seu coração, latejando fundo, a ternura da cidade cheia de encantos, cheia de flores.

São Paulo, por fim, depois de ouvir Bebé e sentir toda esta vibração piracicabana entenderá a grande dor que sente/ o filho ausente a suspirar por Piracicaba! Não por bairrismo, mas por saber que, na sua voz, na toada jazzística de seu canto, no seu carisma, estamos todos, como todos os que lá estiverem, estarão também aqui.

São Paulo festejou ontem e ainda hoje festeja seus 466 anos. Piracicaba, no coração do estado entrega a São Paulo na belíssima voz, na afinação, na delicada presença de Bebé o olhar da cidade, os bons votos da cidade nas canções que cantar. Porque a cidade somos todos os que estamos aqui e se há alguém cuja alma transcende, por seu talento e graça representará a cidade e fará, como faz Bebé com seu canto, sua aura, sua alma.

Quantos, ao vê-la, não se lembrarão da menina que se notabilizou ao apresentar-se, aos doze anos, cantando no programa do Jô, com talento e graça inigualáveis?

Bebé Salvego, talento e dom e estes sentimentos, leva, nos gestos, na fala, nos erres amolecidos e arrastados, na cultura que molda de forma única os caipiras do rio bonito, o que todos queremos oferecer à capital para que saiba de tudo o que acontece em nosso coração mesmo quando não se cruza a Ipiranga e a Avenida São João.

Por vezes, mergulhado nas cartas de Paulo, o apóstolo padroeiro, me pergunto a mim mesmo se não teria, nas entrelinhas, algum recado para a cidade abençoada por ele? A cada dia a capital recebe milhares de migrantes. E os acolhe e faz o laço do abraço que ainda não é, mas será definitivo. Não abandona. Não questiona. Recebe. Terão vindo para o bem ou para o mal?

Não importa. São Paulo cumpre o que manda o apóstolo: “se tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber, porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.

Por isso e muito mais faz bem festejar São Paulo na sua festa. Melhor ainda com Bebé Salvego contando a São, São Paulo do nosso amor!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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