Férias e Trabalho

Por José Faganello | 22/01/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“O trabalho é a melhor e a pior das coisas: a melhor se é livre; a pior se é escravo” (Alain).

Sabemos que nosso tempo de vida sobre a Terra é muito curto e repleto de bons e maus momentos. Somos assaltados por dúvidas insolúveis e por angústias constantes. Qual é o sentido de nossa vida? Como podemos dela usufruir a melhor maneira? Diante do fim inevitável e da impossibilidade de levar qualquer bem material após a morte, por que somos compelidos a trabalhar e, atualmente, com cada vez menos tempo ou condições para o lazer?

O trabalho sempre foi visto por dois prismas distintos. Não são poucas as expressões que desmerecem e até o ridicularizam, como não são poucas aquelas que o exaltam.

Nem sempre os que mais trabalham são os que se aproveitam do próprio esforço. É um provérbio que critica as injustiças sociais, assim como, “O prato não é para quem o faz, é para quem o come” ou ainda: “Os tolos constroem as casas e os sabidos moram nelas”. “Trabalhar como um mouro”, expressão surgida na Península Ibérica, quando os cristãos derrotaram os mouros e os obrigaram aos trabalhos forçados. Daí provém o verbo mourejar.

Uma das mais realistas expressões que traduz a inegável realidade de qualquer tipo de trabalho, com seu eterno recomeço no dia seguinte é, “Trabalho de Sísifo”: Sísifo é um personagem da mitologia grega, rei de Corinto é filho de Éolo, o deus dos ventos ou em outra versão, seria o pai de Ulisses e filho de Antólico. Sísifo exercendo um governo tirânico e com péssimos exemplos de corrupção e de avareza, foi condenado ao reino das sombras, a pagar pelos seus crimes na Terra, fazendo rolar uma enorme pedra até o alto da montanha. Quando lá chegava a pedra rolava para a base e ele era obrigado a buscá-la novamente.

Em um país cujos destaques são as injustiças sociais e uma tradição de 388 anos de escravidão oficializada, o trabalho não pode ser bem-visto ou estimado. Na realidade ele passou a ser glorificado pela burguesia que se enriqueceu trabalhando muito não para o patrão, mas para si. Na Revolução Industrial era necessário convencer os operários da necessidade e excelência do trabalho. Não foram poucas aqueles que lhe teceram elogios: “O trabalho é o único consolo prático para haver nascido”. (Unamuno). “Afinal de contas, o trabalho é ainda a melhor maneira de escamotear a vida” (Flaubert). “A maior parte dos homens consome a maior parte do tempo no trabalho e o pouco de liberdade que lhes sobra angustia-os de tal forma que procuram todos os meios de livrarem-se dela.” (Goethe).

O indiscutível é que precisamos trabalhar para conseguir o necessário para nosso sustento. Aliás, na atual sociedade consumista as pessoas são avaliadas pelo que fazem e pelo que ostentam. Quando a jovem comunica que está namorando, a pergunta não é de qual família, mas o que ele faz.

O mundo moderno exige de seus trabalhadores um empenho cada vez maior e produtividade.

Mesmo altos-executivos, na maioria das empresas, são impedidos de gozar férias, pois a presença deles é considerada imprescindível.

Até o descanso dos finais de semana quando era possível à família sair unida para um programa de lazer tornou-se impossível pelo sistema de turnos que torna o operário verdadeiro escravo e provoca a desarticulação familiar.

As férias são cada vez menores e mais ameaçadoras para o operário.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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