12 de maio de 2025
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CAFÉ SEM CAFÉ

'Café fake' apreendido em operação é feito de 'lixo'

Por Will Baldine | Jornal de Piracicaba |
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
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Os produtos apreendidos foram recolhidos de pontos de venda. Segundo o MAPA, eles não atendem aos critérios legais para serem considerados alimento

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) divulgou, nesta quarta-feira (23), informações sobre a composição de produtos comercializados como café que foram apreendidos durante uma operação realizada em fevereiro em fábricas localizadas nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Saiba Mais:

De acordo com Hugo Caruso, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), os produtos analisados não continham grãos de café. As marcas envolvidas não foram divulgadas. Segundo Caruso, os itens eram compostos por subprodutos como cascas e grãos considerados impróprios para o consumo, além de materiais descartados durante o processamento do café.

Análises laboratoriais

As análises laboratoriais indicaram a presença de uma toxina com potencial cancerígeno nos lotes inspecionados. O Ministério informou que, de acordo com a legislação brasileira, para que um produto seja classificado como café, ele deve ser composto exclusivamente pelos grãos da planta. Produtos que utilizam aromatizantes, aditivos ou grãos de outras espécies não se enquadram nesta categoria.

Os produtos apreendidos foram recolhidos de pontos de venda. Segundo o MAPA, eles não atendem aos critérios legais para serem considerados alimentos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também foi acionada para dar continuidade à análise dos produtos.

A operação foi motivada por denúncias de irregularidades no setor. Durante as fiscalizações, foram encontradas matérias-primas inadequadas, incluindo grãos defeituosos, cascas e aditivos artificiais.

Produtos com rótulos semelhantes aos de marcas reconhecidas

Com o aumento do preço do café no mercado, produtos identificados como "pó para preparo de bebida sabor café" passaram a circular com maior frequência em supermercados. Esses itens são popularmente conhecidos como "café fake" ou "cafake" por tentarem reproduzir características visuais de marcas conhecidas. Em muitos casos, os rótulos utilizam imagens de xícaras de café e grãos torrados, além de adotarem nomes e cores semelhantes às embalagens tradicionais. A descrição real do produto costuma aparecer em letras pequenas.

A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) informou que, em janeiro, um pacote de 500 gramas desses produtos era vendido por R$ 13,99 em estabelecimentos comerciais. O custo reduzido, comparado ao do café tradicional, contribui para a escolha por parte de consumidores.

Classificação e limites legais 

O Ministério avalia se esses produtos poderiam ser enquadrados em outras categorias da legislação alimentar, como "misturas para o preparo de alimentos e bebidas" ou "preparados sólidos", que abrangem itens com ingredientes variados e aromatizantes, a exemplo de chás e refrescos.

A legislação brasileira permite que o café contenha até 1% de impurezas naturais da lavoura, como galhos ou cascas. No entanto, proíbe a inclusão de grãos de outras espécies vegetais, corantes, açúcar, caramelo, borra de café reutilizada e outros materiais considerados inadequados.

Há também produtos no mercado que não contêm café na composição, sendo fabricados a partir de ingredientes como cevada ou milho, com a adição de aromas artificiais. Esses produtos são classificados como ultraprocessados e se diferenciam do café tradicional consumido no país.

Riscos ao consumidor 

De acordo com especialistas, a principal preocupação está na possibilidade de indução ao erro. Mariana Ribeiro, nutricionista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), explica que elementos visuais usados nos rótulos podem levar os consumidores a acreditar que estão adquirindo café, quando o conteúdo não corresponde à descrição.

Como exemplo, ela cita o caso de um produto que imitava a identidade visual da marca Melitta, utilizando nome semelhante ("Melissa") e cores parecidas.

O Ministério da Agricultura reforçou que segue monitorando a produção e comercialização desses itens, e que ações de fiscalização continuam em andamento.