Vivacità

Quebrando tabus: indústria do cinema pornô se transforma para atender o desejo feminino

29/07/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Cinthia Fajardo, diretorageral do Grupo Playboy Brasil
Cinthia Fajardo, diretorageral do Grupo Playboy Brasil

Foi-se o tempo em que um entregador de pizza teria chances de transar com uma dona de casa fogosa com apenas uma interação. Esse cenário típico do pornô, em que tudo acontece rápido e direto ao ponto, está com os dias contados.

Longe da realidade, pouco palpável e sem graça, esse tipo de cena não satisfaz um público que vem consumindo conteúdo pornográfico no sigilo: o das mulheres.

A nossa voz está cada vez mais presente nas demandas dessa indústria, já que ocupam uma boa fatia do público, ao contrário do que se pensa – e até mesmo se admite.

Dois dos maiores de conteúdo pornográfico na internet, o PornHub e o RedTube, divulgaram uma pesquisa mostrando que as mulheres brasileiras são as que mais acessam sites pornô, empatadas com as filipinas. Segundo a pesquisa, em 2019, 35% do consumo de pornografia foi realizado por mulheres e 65% pelos homens.

O SexyHot, canal de televisão adulto de TV por assinatura e streaming, descobriu em um estudo de 2021 que as mulheres representam 44% das assinaturas.

Cinthia Fajardo, diretora-geral do Grupo Playboy do Brasil, responsável pelo SexyHot, afirma que nem sempre foi assim: as mulheres começaram a consumir mais pornô depois que a SexyHot passou a adequar seus conteúdos para o gosto feminino. “Procuramos produzir filmes e séries com histórias mais reais, com mais clima e sedução”, afirma Cinthia em entrevista à Vivacità.

Para ela, o segredo para uma produção de sucesso voltada para o público feminino é a identificação. Falar abertamente sobre pornografia com as mulheres é um desafio. Muitas têm vergonha de admitir que consomem esse tipo de conteúdo, outras, assistiam esse tipo de conteúdo na adolescência, no aflorar da sexualidade.

Atualmente, algumas mulheres acreditam que esse não é o tipo de filme que as represente ou satisfaça. “De vez em quando eu acho que quero ver, mas aí eu acabo percebendo que não me representa nem me satisfaz. Me incomoda bastante como representam o sexo e acabam me dando mais repulsa do que tesão”, conta R. M., 28 anos, claro, sem querer se identificar.

O primeiro filme pornô que se tem notícia é “A Free Ride”, lançado em 1915. Desde então, a indústria pornográfica só tem crescido. “É uma indústria muito antiga, sempre com muitos homens à frente e vem de uma sociedade muito opressora. Atualmente, tentamos envolver cada vez mais mulheres por trás das câmeras”, explica Cinthia.

Lis, 25 anos, começou a atuar em filmes pornô há dois anos. Ela não fez parte da “velha escola” do pornô, mas está ciente de que, ainda que muitas produtoras tenham a consciência e desejo de tornar seus conteúdos mais atrativos para mulheres, ainda há muito conteúdo desinteressantes para nós. “Não fui exposta a esse ‘pornô antigo’, mas ainda existem produtoras que tem esse olhar mais voltado para o gozo masculino”, conta ela. “Antes, meu público era somente masculino. Hoje recebo feedbacks de meninas e casais, o que é muito gratificante. Muitas mulheres têm a imagem de como era o pornô antigo e acabam perdendo a chance de conhecer essas novas produções”, comenta Lis.

Preferências.

De acordo com a pesquisa do PornHub e do RedTube, as categorias mais procuradas nos sites pelas mulheres são “lésbicas”, “trios” e “squirt” (ejaculação feminina). Elas também se interessam em ver sexo entre homens gays e fazem buscas por termos como sexo oral, massagens e vídeos de celebridades.

Um dos elementos de sucesso para a produtora SexyHot é a inclusão, afinal, para a mulher, identificar-se com o conteúdo assistido é uma das grandes partes da fantasia. “Temos atrizes com todo tipo de corpo, magro, gordo, de todas as cores, principalmente corpos naturais, que fogem do estereotipo de atriz pornô”, explica Cinthia.

Além do sexo explícito, os canais que fazem parte da rede também têm apostado em conteúdos sobre sexo, com o auxílio de sexólogos. Entre os assuntos tratados estão sexo na gravidez, posições sexuais para apimentar a relação, o que tem agradado bastante o público. “O tipo de consumo varia bastante: tem mulheres que usam o pornô para se inspirar, assistem com os parceiros para que seja um ponto de partida de excitação ou assistem sozinhas para se dar prazer e conhecer mais o corpo”, conta Cinthia.

“Existem as mulheres que preferem o pornô que tem mais história, mais cuidadoso, mas também tem aquelas que gostam do ‘hard’, que vai mais direto ao ponto. Acredito que depende muito da ocasião”, opina a atriz Lis.

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