Marcos Meirelles

A velha política empareda o eleitor

Por Marcos Meirelles |
| Tempo de leitura: 2 min

Na minha idade, eu não tenho muita esperança de que possa ver, um dia, um país menos desigual, sem fome e miséria, com oportunidades iguais para todos.

Já vivi essa esperança algumas vezes, desde a redemocratização do país, mas elas acabaram frustradas por governos ineptos, políticos e empresários comprometidos apenas com seus interesses pessoais e uma cultura patrimonialista avessa a qualquer concessão aos menos favorecidos.

É possível argumentar que são menos de três décadas de regime democrático e que esses percalços eram previsíveis. Concordo. Mas é inevitável a gente se perguntar: nestes tempos recentes, como foi possível que tenhamos regredido tanto em tão pouco tempo? 

Estamos submetidos hoje a um governo e a um déspota cujo único compromisso inequívoco é corromper e solapar as instituições. Como observou recentemente o historiador José Murilo de Carvalho, o alvo de Bolsonaro, no fim das contas, é a Constituição de 1988 e tudo o que ela trouxe de positivo como marco civilizatório brasileiro.

Neste cenário tão perverso, causa espanto que a máquina política, os donos de currais eleitorais e partidos, continuem a se movimentar sob a lógica pragmática dos conchavos e acordos que jogam às favas todos os escrúpulos e condenam o Brasil à incerteza e à escuridão.

A corrida eleitoral que se afunila entre dois extremos é também um símbolo do mais completo fracasso das elites, e aqui falamos também da intelligentsia, em promover novas ideias e projetos políticos, com a premissa fundamental do compromisso com a democracia e com o respeito às instituições.

Para muitos, nossos ídolos ainda são os mesmos, como dizia Belchior. Então, estamos no sal: ou mergulhamos naquele clima de déja vu, que mistura jingles e discursos que ecoam os anos 1980, ou deixamos o país entregue definitivamente ao monstro sabotador da democracia.

Os políticos que poderiam evitar a imposição deste triste dilema aos eleitores, no entanto, se acovardaram ou se retiraram da raia simplesmente porque não têm nada de novo a oferecer, concretamente, ao país. 

Esses mesmos políticos vão bater na sua porta, eleitor, com as mãos bem lavadas, quase como se fossem “isentões”, e vão pedir seu voto com velhos discursos e chavões, como as promessas de “modernização” e “mudança”. Ou seja, querem seu voto, mais uma vez, para não mudar nada e ainda legitimar, com seu silêncio, aqueles que, em vez de pensar o futuro do país, querem fazê-lo retroceder mais de 50 anos.

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