Ideias

em nome do pai, do avô e do doce de abóbora

Por Guilhermo CodazziJornalista e escritor, editor-chefe dos jornais OVALE e Gazeta de Taubaté | 09/06/2017 | Tempo de leitura: 2 min

'Então, ele pegava e comia doce de abóbora!'. Era assim, com esta frase desconexa, que eu respondia à pergunta do meu avô, a quem chamávamos de Doutor Hélcio.

Depois de enchermos a barriga com a comida deliciosa que minha avó fazia, ele costumava reunir os netos na sala de jantar e então começava a contar uma história. Depois, abruptamente, interrompia a narrativa e pedia que continuássemos a trama.

Por alguma razão que a ciência desconhece completamente, quando chegava a minha vez eu sempre respondia que o personagem da história iria parar o que estivesse fazendo para comer doce de abóbora.

Quem imaginaria que aquele garoto ganharia a vida, justamente, contando histórias? E que odiaria doce de abóbora.

Ficávamos todos em volta da mesa. Marina, Malu, Julio e eu.

Todos rindo daquela história maluca. Tínhamos entre 7 e 5 anos, adorávamos passar os dias na casa da minha avó, a dona Nívia. Escondíamos chocolate por toda a casa, caixas e caixas de Bis, e espalhávamos pistas sobre a localização daquele açucarado tesouro.

Era uma caçada deliciosa, uma espécie de Indiana Jones na loja de doces.

Ao lado da sala de jantar havia um cômodo para ver televisão -- não podíamos jogar videogame por causa da Malu e seu Atari assassino, que, segundo a minha avó, queimava os televisores da casa. Obrigado, Malu. ;)

Nesta sala, havia na parede uma placa com bordas de madeira e uma placa de metal, com o nome do meu avô e sua profissão: Hélcio Costa, médico. E não era um médico qualquer, longe disso. Era daquele tipo de médico antigo, que fazia um diagnóstico só de olhar para o paciente.

Ele também adorava contar histórias, do tempo em que lutou contra poderosos da época para levar o tratamento de água para Cruzeiro ou da noite em que conheceu a dona Nívia em Campos do Jordão.

Meus avós se foram recentemente: ela no fim de 2014 e ele no começo de 2015. Para essa dor da saudade, eu -- apesar de não ser médico -- receito uma boa dose de boas lembranças. E são tantas...

Agora, o nome do Doutor foi escolhido para batizar uma praça de Taubaté. Uma justa homenagem, que deixa nossa família feliz. No entanto, lá no fundo, mais importante mesmo é que o nome que está gravado naquela velha placa de médico segue vivo em seus filhos, netos e familiares.

É, chegou a nossa vez de continuar a história, carregando este nome de Costa a Costa.

E, para mim, ela sempre terá um doce gosto de abóbora.

E saudade..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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