Ideias

O segredo dos olhos mais lindoS do mundo

Por Guilhermo CodazziEditor-chefe dos jornais OVALE e Gazeta de Taubaté, além de escritor | 12/05/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Caro leitor, você se lembra da Barra Forte? Nos anos 80, essa era a marca de uma bicicleta da classe operária. Não era um modelo bonito, aliás longe disso. Era como a Kombi versão ciclística -- era robusta, como o próprio nome já diz, em detrimento da estética.

Pois bem, a Barra Forte era o nosso meio de locomoção. Era vermelha, tendo uma esfera de ferro abaixo do quadro. Nela, a minha mãe transportava os três filhos para a escola -- dois no quadro e outro na garupa.

E olha, o trajeto era sinuoso e para lá de tortuoso, com a nossa trupe se esgueirando a bordo da bicicleta nas acanhadas ruas do centro de Taubaté.

Eu devia ter uns 5 anos, a Marina um a mais e o Julio um a menos, formando uma escadinha. Estudávamos os três na 'Vidinha em Grupo' (que era uma ótima escola, apesar do nome questionável), com nossos uniformes com as cores amarelo e vermelho, no melhor estilo Chapolin Colorado.

Vira e mexe a gente chegava atrasado na aula -- o que pode ser comprovado na minha ficha de avaliação escolar: 'É uma criança inteligente porém bastante desligada. Seus constantes atrasos o prejudicam em seu desenvolvimento escolar. Tia Lilian'. Ê Tia Lilian viu, sempre me elogiando né...

Bom, mas queria ver a Tia Lilian levar três crianças de bicicleta, andar no centro de Taubaté e chegar no horário! Duvido.

Acredite, só mesmo uma super-heroína para enfrentar um desafio desses.

Bom, toda mãe tem um quê de heroína. A minha é argentina, nasceu em Buenos Aires, com olhos verdes lindos. Aos 15 anos veio com toda a família Codazzi para o Brasil, mais precisamente para Curitiba.

Por aquelas bandas, em poucos meses já era a número um nas aulas de português. Passou no vestibular para Arquitetura, em primeiro lugar. Aí, então, sua vida deu uma baita guinada. Casou-se, mudou-se para Taubaté e ainda novinha, dos 19 aos 23 anos, teve três filhos. O casamento se desfez, ainda éramos bem pequenos e lá estava ela, com três crianças para criar, longe da família e dos planos que tinha traçado lá atrás, na cabeça de menina.

Obviamente, não foi fácil.

Minha mãe enfrentou muita cara feia. Foi secretária, desenhista, pintora, dona de casa, vendedora de ursinhos de pelúcia, professora, terapeuta e até atriz. Poderia ser tudo o que quisesse. Mas optou pelo papel de mãe do Julio, da Marina e deste que vos fala.

E o Barbudo lá de cima não poderia ter escolhido melhor. Ela segue sendo meu maior exemplo. Tem a força da Barra Forte, hoje nos guiando no caminho seguro nesta sinuosa escola da vida. E tem os olhos mais lindos que eu já vi..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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