Ideias

UM GOVERNOSEM VOTONO BRASIL

Por Marcos MeirellesJornalista | 25/08/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Nas páginas do El País, a jornalista Eliane Brum colocou o dedo na ferida: acabamos de inventar, no Brasil, a democracia sem povo. Um governo com 5% de aprovação impõe a agenda que interessa aos grandes grupos econômicos e faz todas as concessões aos políticos que lhe dão sustentação. Não há razão para que Temer dê qualquer satisfação à população -seu governo simplesmente abstraiu o conceito de povo, legitimado pela absolvição política de seus crimes. Temer julga, portanto, que pode fazer o que bem entender das aposentadorias dos brasileiros. Da mesma forma, o governo pode liberar por decreto a exploração mineral na Amazônia, vender estatais a preço de banana e aumentar impostos reiteradamente.

Numa democracia sem povo, o eleitor, essa pedra no sapato de tantos políticos, torna-se mero apelo retórico nos discursos do governo. Como diz Eliane Brum, Temer suplantou até os generais da ditadura militar. Naquele tempo, tanques e fuzis silenciavam o povo. Agora, pouco importa o que o povo pensa. A invenção do governo Temer inspira um arranjo ainda mais ousado das elites políticas para 2018: querem criar no Brasil ferramentas para instituir a democracia sem voto. A cereja do bolo da reforma política em discussão é a criação de um sistema parlamentarista sem partidos. Depois de dois plebiscitos terem rejeitado a adoção do parlamentarismo, a ideia é atribuir ao Congresso -este mesmo Congresso que sustenta o Temera responsabilidade de mudar o regime de governo no país. Mas o Centrão não abriu mão de vincular a proposta à criação do famigerado "distritão". Então Temer e o ministro Gilmar Mendes (esse mesmo!!!) começaram a arquitetar a proposta do "semipresidencialismo". Temer sugeriu até que poderia abrir mão de algum naco de poder para nomear um primeiro-ministro até o fim do seu mandato. E quem seria o escolhido? Romero Jucá? Não importa o nome. O que eles querem é inventar um sistema de governo onde o voto seja apenas uma ferramenta de manutenção de quem já está no poder. Versão contemporânea do voto de cabresto da República Velha. E preferencialmente com financiamento de gordo fundo público eleitoral..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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