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Ideias
TRAVESSIAPELAESCURIDÃO
Por Marcos MeirellesJornalista | 27/10/2018 | Tempo de leitura: 2 min
No Grande Sertão, Rosa escreveu: "Onde é que está a verdadeira lâmpada de Deus, a lisa e real verdade?"
Quais foram os maiores derrotados nas eleições presidenciais deste ano? A velha política, o PT e o PSDB certamente. Mas vou destacar um terceiro derrotado: a imprensa.
Morre, por inanição, a ideia de imprensa como mediadora de ideias, como fonte primária de notícias, como filtro até então imprescindível para acusações, denúncias e promessas das campanhas eleitorais.
Morre, pela simples falta de razão para existir, a imprensa como instituição que dava credibilidade à narrativa dos fatos. Nas redes sociais, os fatos tornaram-se desnecessários. Basta que o conteúdo seja crível e compatível com os valores dos receptores. Basta que cada lado alimente suas bolhas com as fake news de sua conveniência.
Na autocracia populista que se avizinha, o messias pregará diretamente aos convertidos pelas redes sociais e fará de tudo para desqualificar a imprensa. Pelo Twitter, foi o próprio Bolsonaro que prometeu acabar com a "mamata" da Folha de S. Paulo e destruir seu "ativismo político", estimulando assim ameaças reais a jornalistas e até ao diretor do Datafolha.
A imprensa poderá superar a inanição e adotar uma postura crítica em relação ao novo governo? Acho improvável. Aqueles que o fizerem, no entanto, precisam estar preparados para ameaças ainda mais terríveis.
As fake news não são um fenômeno recente: elas já estavam presentes em 2014. Com a indústria de disparos pelo whatsapp e com a multiplicação destes conteúdos em páginas de "notícias" do Facebook, no entanto, elas assumiram um protagonismo inédito.
A democracia que o Brasil irá referendar neste domingo pressupõe liberdade de imprensa. Se o messias mantiver o discurso de ódio e enveredar pela simples intimidação do jornalismo, estará trilhando caminho oposto à democracia. Num país onde o "Bangu News" tem mais leitores que "O Globo", o jogo a ser jogado, no entanto, parece bem mais intrincado que o antigo "gato e rato" entre censores e censurados.
"O diabo não há! (...) Existe é homem humano. Travessia"..
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