Brasil

Rio, Onde os Malandros Viraram Manés

Por Roberto Wagner de AlmeidaJornalista |
| Tempo de leitura: 2 min
Malandro. Visão panorâmica do Rio de Janeiro
Malandro. Visão panorâmica do Rio de Janeiro

Obcecados por sucesso, os norte-americanos têm o hábito de dividir os seres humanos em vencedores e perdedores. Já neste nosso país tropical, por se considerarem insuperavelmente espertos os cariocas dividem os brasileiros em malandros e otários. E, nem seria preciso dizer, nenhum carioca admite ser otário, todos se orgulham de ser malandros, obedientes à Lei de Gérson: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo?" Otários somos todos nós, os que não ostentam o galardão de intitular-se "carioca da gema".

Isso vem de longe, desde sempre os cariocas têm manifesta simpatia pela figura do malandro, celebrizada em personagens de sambas, filmes e peças teatrais que exibem a esperteza e a malícia como marcas exclusivas dos nascidos no Rio. Se bem que foi um pernambucano, o sambista Bezerra da Silva, quem deu forma definitiva ao orgulhoso lema dos nativos do Rio: "Malandro é malandro, mané é mané".

Muito melhor que eu, o jornalista J. R. Guzzo apontou nas páginas da revista "Veja" o perfil do carioca: "Há uma parte da população do Rio de Janeiro que sempre construiu para si própria, e para o restante do Brasil que presta atenção no que se fala ali, uma imagem de sua cidade como o centro nacional e mundial da malandragem. Seria uma grande virtude. Esse 'espírito', na sua maneira de ver as coisas, faz do Rio uma cidade superior às demais. Faz de seus cidadãos pessoas mais inteligentes, mais aptas a lidar com a vida e mais hábeis que os outros brasileiros em conseguir o melhor para si próprias. (...) Sujeito honesto, cumpridor das leis, pagador de impostos, respeitador das regras de trânsito, bem educado, etc. - tudo isso, cada vez mais, passa a ser visto como uma fraqueza, além de burrice, falta de 'jogo de cintura' e outros delitos graves".

É por causa dessa cultura da malandragem que o Rio de Janeiro transformou-se hoje num imenso contingente de manés, reféns dos malandros que já não se comprazem com a contravenção do jogo do bicho, preferindo empunhar fuzis para impor o tráfico de drogas. Não se passa um único dia sem que, por lá, a contagem de homicídios aumente de forma exponencial. Sejamos sinceros, dá vontade de dizer: bem feito!

A nós, a malta de otários que habita o restante do Brasil, especialmente aos paulistas que têm o mau gosto de dedicar-se ao trabalho em vez de curtir uma praia, caberá pagar os bilhões que estão sendo investidos numa intervenção militar com o objetivo de, ao menos, minorar o atual desconforto dos espertíssimos cariocas.

Pensa que se acanham, que se arrependem? Que nada. Reconheçamos, eles são exímios em criar gírias e piadas, até para rirem de si mesmos. Em meio à guerra urbana, eles dizem que carioca não liga para bala perdida. Porque isso entra por um ouvido e sai pelo outro....

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