Ideias

Manchetesde um jornal de janeiro de 81

Por Guilhermo CodazziJornalista e escritor, editor-chefe de OVALE e da Gazeta de Taubaté | 10/04/2021 | Tempo de leitura: 2 min

Guilhermo Codazzi, editor de OVALE
Guilhermo Codazzi, editor de OVALE

Extra! Extra! Extra!

Reagan quer debate nuclear; BC faz nova intervenção, agora no Rio; Émerson retira-se das pistas; Figueiredo espera U$S 2 bilhões da França; Essas eram algumas das principais manchetes da edição nº 18.930 da 'Folha de S. Paulo', publicada naquela sexta-feira, dia 30 de janeiro de 1981. Eram as notícias no dia em que eu, um aficionado por manchetes, nasci no Hospital Santa Isabel, em Taubaté.

O hospital já não existe mais... transformou-se no Hospital Regional do Vale do Paraíba.

Na noite anterior, meus pais haviam ido juntos assistir um filme no Cine Palas, sala tradicional no centro da cidade. Em cartaz, de acordo com as fontes paternas, estava 'O Iluminado' e, segundo as maternas, 'Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu'. E ali, durante a sessão, minha mãe sentiu as contrações, eles correram para o Santa Isabel e nasci, às 0h30.

O cinema já não existe mais... virou uma igreja evangélica.

Naquele início de 1981, a febre era ter um walkman. Mas e o que era o sucesso nas rádios? Morto em dezembro do ano anterior, o beatle John Lennon dominava as paradas de sucesso, com músicas como 'Imagine' (number one nos EUA) e a tocante 'Just like starting over' (líder na Inglaterra, Canadá e Austrália), do Double Fantasy, seu último disco -- tive uma fita k7 dele, responsável por me iniciar no rock'n roll.

A fita k7 já não existe mais... virou sucata, perdeu-se no tempo. É, o tempo...

Dia desses, enquanto caminhava por Taubaté, observava como as ruas da cidade foram mudando com o tempo. Certamente, elas dizem o mesmo.

Passei por uma esquina em que dei o primeiro beijo, ali debaixo da sombra de uma árvore -- que já não existe mais.

Passo a passo, percorrendo o entroncamento entre o hoje e o ontem, já não vejo mais o hospital ou o cinema, nem posso ficar à sombra daquela mangueira.

Eu sou filho de jornalista, irmão de jornalistas e, certamente, minha mãe e irmã são notícias excelentes. Além de sermos contadores, somos colecionadores de histórias. O hospital,a k7... estão vivos neste trailer em cartaz. Somos a soma de nossas vivências. E levo todas no olhar e no coração, ao lado do meu amor de manchete de jornal..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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