Julio Codazzi

Bolsonaro, o golpista de Taubaté

Por Julio Codazzi é editor-executivo do jornal OVALE |
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Em janeiro de 2012, a pedagoga Maria Verônica Santos, de Taubaté, ganhou os noticiários com o relato de que estaria grávida de quadrigêmeas. Àquela altura, segundo ela, a gestação estava na 34ª semana. A mentira, que seria descoberta dias depois, nem tinha mesmo como durar muito. Afinal, uma gravidez normal dura de 37 a 42 semanas. Portanto, mesmo que a imprensa não tivesse descoberto a farsa, era questão de tempo para que ela se revelasse automaticamente, já que não teria como sustentar que a 'gestação' se estendesse muito mais.

As supostas filhas de Maria Verônica, que se chamariam Maria Klara, Maria Eduarda, Maria Fernanda e Maria Vitória, nunca nasceram - até porque nunca existiram. Mas, quando a farsa foi revelada, nasceu um meme aparentemente eterno: a Grávida de Taubaté. Até hoje, essa figura é a que mais vem à mente dos brasileiros quando se fala em mentira. E ganhou até variações. Um homem que trai a esposa, por exemplo, vira o 'fiel de Taubaté'. Um político corrupto, o 'honesto de Taubaté'.

Por falar em mentira e político, vimos na última semana o revelar de mais uma farsa. Acuado pelo derretimento de sua popularidade e pela grande possibilidade de derrota nas eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro deu um tiro no pé ao conclamar seus - cada vez mais diminutos - seguidores para assistirem ao autogolpe que seria dado no Dia da Independência.

O flerte de Bolsonaro com ditaduras não é novidade. E a mera hipótese de que o presidente um dia mandaria para o espaço o tal estado democrático de direito sempre foi um dos principais combustíveis do eleitorado bolsonarista. Mas, como inteligência não é seu forte, Bolsonaro expôs a farsa de seu pretenso trunfo.

Milhares de bolsonaristas foram às ruas no Sete de Setembro esperando que o presidente aplicasse o autogolpe. Já Bolsonaro imaginava que o golpe partiria de seus seguidores. Mas os policiais não se rebelaram, os manifestantes não compareceram no número esperado, não havia força suficiente.

A frustração dos bolsonaristas, que ficaram sem o golpe no dia 7, aumentou no dia 8, quando o presidente pediu para os caminhoneiros abortarem as paralisações. E no dia 9, com o humilhante recuo, na carta redigida com ajuda do ex-presidente Michel Temer.

O desejo de insurreição por parte de Bolsonaro não é uma mentira. Mas a história de que ele poderia colocar isso em prática em um estalar de dedos é. E, mesmo assim, o presidente passou os últimos dois meses anunciando que o "ultimato" seria dado dia 7.

Foi ele que agendou a data para o parto. Foi ele que, sem cartas na manga, partiu para o tudo ou nada. Deu nada. A mentira foi revelada. Nasceu o 'golpista de Taubaté'. Azar de quem caiu na farsa.

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