‘Tabuleiro’ da facção criminosa PCC define vida e morte

Diariamente, PCC monta tribunal do crime na região e decide casos relacionados aos membros da organização e das quebradas

Por Guilhermo Codazzi | 13/09/2021 | Tempo de leitura: 2 min

'Berço'. PCC foi criado na região
'Berço'. PCC foi criado na região

Xeque-mate.

Com a sua própria lei, o PCC (Primeiro Comando da Capital) movimenta os seus peões no espaço deixado vago pelo Estado, avançando por casas e casas perigosamente na direção ao rei e à legislação vigente. O tribunal do crime é montado diariamente na RMVale, o berço da facção e a região mais violenta de São Paulo.

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No jargão da organização criminosa, trata-se do ‘tabuleiro’ -- nome para os tribunais, onde a definição sobre quem viverá ou morrerá é feita como o lançar de dados. “Eles [PCC] montam o tabuleiro todos os dias. Mas matar alguém é raro, hoje bater é o mais comum”, diz um agente especializado no combate à facção criminosa no Vale.

"Quando o cara [o 'réu'] é sequestrado, nem dão o direito dele falar. Ele fica amarrado, com alguém tomando conta. Aí vem a ordem para matar e eles dão o 'ok' para o sequestrador. Depois a gente acha o corpo. O PCC não cobra só se fizer algo para alguém da facção. Se fizer qualquer coisa na quebrada deles, eles cobram", diz uma fonte policial ouvida por OVALE.

O júri é composto por irmãos presos e que estão nas ruas. Os 'crimes' mais graves são estupro e roubo dentro do PCC, em geral ligado aos dividendos obtidos com a venda de drogas. O tribunal -- ou tabuleiro, porém, é usado para decidir imbróglios nas 'quebradas', incluindo até os problemas dos moradores.

Em geral, o tribunal tem acusador, defensor e júri, sendo transmitido por meio de celular.

DECRETADO

Aplicada nos tabuleiros, a pena de morte é chamada de 'decreto'. No entanto, ela seria rara.

"Até para matar 'jack' [a gíria para estuprador] está difícil. É preciso pedir autorização", afirmou um homem ligado ao tráfico de drogas em São José, autor de ao menos três homicídios.

"Aqui, levaram um cara para lá [tabuleiro], acusaram ele de ser dedu-duro da polícia. Foi levado, mas não conseguiram provar. E o PCC não deixou matar. Daí, o rapaz [traficante que pediu o julgamento] ficou chateado, porque não pôde 'fazer' [matar]", disse outro homem ligado ao tráfico.

BANDEIRA BRANCA

Nas chamadas 'quebradas', o tráfico atribui ao PCC a redução drástica na quantidade de homicídios -- a posição é atestada por parte dos especialistas em setor, e questionada por outra parcela, assim como pelo Estado.

Em áreas como a região sul de São José, a ordem é conhecida como 'Bandeira Branca'.

As fontes policiais, agentes, ex-presos e pessoas ligadas ao crime foram ouvidas na condição de serem mantidas em sigilo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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