Na última segunda-feira, São José dos Campos teve um duro choque de realidade quando se confrontaram duas cidades distintas: a São José da qualidade de vida e a São José que vive fora dos limites sorridentes da propaganda oficial.
Durante cinco horas, o entorno do complexo da Santa Cruz 1 e 2 virou uma praça de guerra, com barricadas, carros queimados, tiros e corre-corre. A Fundo do Vale e a Nelson D`Ávila foram fechadas. Tudo a 200 metros do Paço e da Câmara. Motivo: um protesto dos moradores da Santa Cruz contra a morte de um jovem em confronto com a PM. Um bandido, segundo a polícia. Uma execução, segundo a família.
Independentemente do grau de verdade de cada versão, o incidente traz à tona um tema importante, quase nunca encarado de frente: o que fazer com os núcleos de favela encravados no centro da cidade? Afinal, ali na Santa Cruz, assim como na Nova República, moram centenas de famílias que merecem ter condições dignas de habitação, mas que convivem com um ambiente de violência, sob o jugo do tráfico de drogas. Como garantir os direitos dos moradores e reduzir a influência do crime?
Em seu primeiro mandato, Felício Ramuth (PSDB) prometeu transferir as famílias da Nova República, oferecendo aluguel e outros benefícios. Esbarrou na resistência dos moradores e na Justiça. Ficou como está. Faltam soluções. No governo Emanuel Fernandes (PSDB) parte da Santa Cruz foi retirada, com os moradores transferidos para o conjunto Henrique Dias, transformado, rapidamente, em bunker do tráfico. E, bem antes, Sérgio Sobral teve a brilhante ideia de murar a Santa Cruz, para "esconder" os barracos. Gênio. O muro pintado de branco virou parede e ali está, até hoje, símbolo de uma má ideia. A questão da habitação de baixa renda desafia a cidade. Tudo isso somado a áreas fora da influência do poder público, surge uma cidade paralela. Quando vamos encarar esse problema?
São José é uma cidade diferenciada, que se orgulha de sua qualidade de vida. Mas, infelizmente, o slogan otimista da propaganda oficial não é real para toda a comunidade. Esse é um debate que exige coragem. Mas vale a pena.