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Voz feminina em prol de uniformes mais adequados no esporte ganha força

Por Daniela Borges |
| Tempo de leitura: 3 min

O esporte tem sido palco de importantes reivindicações das mulheres na luta por igualdade de gênero. Depois do movimento por salários equiparados aos dos homens, capitaneado pelas jogadoras da seleção feminina de futebol dos Estados Unidos, a contestação atingiu os uniformes usados durante as competições. 

Primeiro, as atletas da seleção feminina de handebol de praia da Noruega se recusaram a usar biquíni na final do Campeonato Europeu. Em Tóquio, durante os Jogos Olímpicos, as ginastas alemãs usaram um macacão de corpo inteiro em manifesto à sexualização dos uniformes esportivos. 

É justo exigir direitos iguais, afinal, qual seria a justificativa para que os uniformes de homens e mulheres que disputam a mesma modalidade sejam diferentes? Por essa e outras, as atletas mais conscientes valem-se da notoriedade que o maior evento do esporte no mundo proporciona para se posicionar e defender temas relevantes. "Os Jogos Olímpicos trazem uma visibilidade muito grande. Talvez tenha sido por isso que tenham esperado para tratar do tema lá", afirma a levantadora da seleção brasileira de vôlei de quadra, Roberta Ratzke, medalhista de prata em Tóquio.

Além da questão do conforto, há a preocupação com a exposição excessiva e desnecessária do corpo feminino em algumas categorias. "O mundo do esporte historicamente é masculino. Dessa forma, toda a lógica do esporte é muito masculina, não só em termos da participação, mas também de arbitragem, técnicos e na gestão das organizações esportivas. Ou seja, isso tudo se reflete na questão dos uniformes", explica Flávia da Cunha Bastos, professora do Departamento de Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP. 

Esse é exatamente o ponto chave. O esporte é pensado por homens para um público majoritariamente masculino.  "Acredito que muito dessa imposição venha da própria cultura de mídia que, em alguns casos, estimula essa exposição, que tem consumo direcionado ao mundo masculino", observa Flávia. Se formos parar para analisar, de fato, as imagens das atletas na mídia esportiva buscam sempre por ângulos mais sensuais. Há ainda relatos de que imagens das atletas acabam indo parar em sites de conteúdo adulto.

A insurgência das atletas surge como um grito de liberdade. "Acredito que a discussão é válida e necessária. É cada vez mais importante ouvir a voz das atletas, seja em qual sentido for. Se há uma questão que incomoda, ela deve ter espaço para se manifestar, reivindicar", diz.

O ideal, de acordo com a professora da USP, seria que as atletas pudessem propor, opinar e participar no sentido de expressar o que seria mais adequado, confortável, apropriado para a sua condição, sem perder em vista a melhor performance, sem gerar constrangimentos. "Um exemplo recente, não só ligado à mulher, foi a "flexibilidade" da vestimenta nas competições de skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020", lembra.

Para quem está na linha de frente da discussão, o que vale é a liberdade de escolha. "Acredito que cada uma deveria jogar da maneira que ache mais confortável. Ainda mais em esportes onde a mulher fica mais exposta, usando biquíni, por exemplo. Isso, na minha opinião, seria o ideal. Afinal, somos nós que estamos usando o material e performando. Precisamos estar confortáveis e seguras", opina Roberta.

Após toda a repercussão, o COI (Comitê Olímpico Internacional) atualizou suas diretrizes em suas transmissões oficiais para evitar imagens que destaquem partes do corpo das atletas e a mesma recomendação foi passada aos detentores do direito de transmissão visando resguardar as atletas e acabar com as imagens sexualizadas.  

Mais um exemplo de que quando há mobilização as mudanças acontecem. Certamente este é um dos legados dos Jogos Olímpicos deste ano que também vai entrar para a história como a edição que teve a maior participação feminina de todos os tempos, alcançando 48,8% dos participantes. No Brasil, essa representação ficou em 42,8%.

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