Marcos Meirelles

A ousadia de Felício Ramuth

As chances de Ramuth são mínimas, e ele sabe disso. A possibilidade de projetar seu nome em todo o estado e de se cacifar para outros projetos políticos é grande

Por Marcos Meirelles, jornalista | 08/04/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Pode se acusar o ex-prefeito Felício Ramuth de tudo, menos de mesmice. Esta foi a análise resumida que um amigo meu fez da decisão de Ramuth de abandonar a prefeitura para disputar o governo do Estado.

Devo concordar. Embora eu veja em Ramuth uma percepção elitista da gestão pública, o governo do “centro para a periferia” e aquela falaciosa sobreposição da “visão técnica” sobre a “política”, o ex-prefeito deu um passo político que seus mentores e antecessores jamais ousaram.

As chances de Ramuth são mínimas, e ele sabe disso. A possibilidade de projetar seu nome em todo o estado e de se cacifar para outros projetos políticos é grande.

O ex-governador Leonel Brizola advertia que, em política, nunca se deve ignorar o provérbio gaúcho de que “cavalo encilhado não passa duas vezes”.

O ex-governador Geraldo Alckmin era um deputado federal inexpressivo até que se valeu da insegurança de outros caciques tucanos para ser o vice de Mario Covas.

Ramuth abraça agora a raposa Gilberto Kassab, que terá papel relevante no cenário político a partir de 2022, qualquer que seja o resultado das eleições.

Resta saber se o choque de realidade de uma campanha eleitoral mais abrangente poderá fazer Ramuth se despir, ao menos parcialmente, da bazófia tecnicista e insípida. Em tese, esse é um desafio maior que as urnas de outubro.

De outra parte, Ramuth deixa o cenário político em São José incerto e cheio de alternativas, como não se via desde a eleição de Angela Guadagnin, em 1992. De lá pra cá, PSDB e PT se firmaram como as principais forças políticas da cidade e polarizaram a disputas eleitorais.

Em 2020, o PT ficou para trás, mas nenhum partido ou liderança parecia ter forças para se contrapor ao PSDB.

Agora, o PSDB corre o risco de virar pó, na esteira da saída de Ramuth, do recém-empossado prefeito Anderson Farias e toda a tropa de comissionados da prefeitura para o PSD.

Com PT e PSDB enfraquecidos, Anderson tem caminho livre para pavimentar uma eventual candidatura à reeleição. Mas ainda é cedo para vaticinar qualquer coisa em relação à sucessão municipal.

Primeiro, será preciso avaliar a herança real de Ramuth, neste segundo mandato. Depois, a capacidade de Anderson, um profissional dos bastidores da gestão pública, para se firmar como protagonista da política joseense e conquistar a confiança do eleitor.

Para alcançar esse protagonismo, o novo prefeito terá que renovar o compromisso de sustentação política na Câmara, montar uma equipe à sua feição e construir uma “marca” para a sua gestão. Tudo isso será como “pisar em ovos”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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