Ideias

Somos um país com 209 milhões de médicos

Por Hélcio CostaJornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia | 11/07/2020 | Tempo de leitura: 2 min

Já fomos assim com o futebol e, recentemente, com o Direito, quando o STF decidia sobre a prisão em segunda instância.

Agora, chegamos à Medicina.

Depois de sermos, por décadas, milhões de técnicos de futebol e milhões de magistrados na era Lava-Jato, agora somos 209,5 milhões de médicos a debater, sem pudor, protocolos médicos no tratamento do novo coronavírus, uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19, pesquisas sobre vacinas salvadoras e estatísticas sobre a pandemia.

Do presidente ao motorista de Uber, viramos virologistas, doutores em biologia molecular, sanitaristas de mão-cheia. Mesmo sem registro no CRM, Jair Bolsonaro festeja ter contraído a doença e continua a receitar cloroquina como panaceia universal, espécie de elixir mágico que os doutores de araque receitavam antigamente para dores estomacais, câncer e soluço. Outro dia, um motorista de aplicativo me deu uma aula sobre como o governo mascara os números da Covid-19.

Como a corrida foi curta, fiquei sem entender se era para mais ou menos. Mas a convicção do motorista quase me convenceu. E como somos convictos: um amigo, empresário, decidiu ignorar os protocolos de saúde fiel às orientações de Bolsonaro de que o novo coronavírus é uma chuva que, hora ou outra, vai molhar a gente. Mas, pensei, não dá para usar guarda-chuva?

Seria engraçado se não fosse trágico. Tem gente, como Bolsonaro e seu histórico de atleta, que não dá a mínima. Ou usa a doença como palanque político (pior, ele não está sozinho; tem espaço para João Doria e outros). Mas, tudo bem. Afinal, somos um país de 209,5 milhões de médicos, cujo presidente virou garoto-propaganda de um medicamento, o governador inventou a quarentena-sanfona e os recursos da Saúde acabam no sorvedouro da corrupção. Parecemos acreditar que, como nos filmes de médico na TV -do antigo Doutor Kildare até o recente Shaun Murphy, de "The Good Doctor", sem esquecer Francisco Cuoco, em "Obrigado Doutor"--, os fatos vão se encaixar rumo ao final feliz. Não é verdade. No país do Doutor Bolsonaro, a trama parece comédia, escorregada para farsa, mas é, na verdade, uma tragédia..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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