Ideias

NUVENS NO CÉU, JOGO DE DADOS E COVID NA URNA

Por Guilhermo CodazziJornalista e escritor, editor-chefe de OVALE e Gazeta de Taubaté | 27/06/2020 | Tempo de leitura: 2 min

"Política é como nuvem, Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou". Apesar de chavão, a frase de Magalhães Pinto (1909-1996), velha raposa da política mineira, é cirúrgica e atual, ainda mais em 2020, quando um dia dura uma semana em meio à pandemia da Covid-19.

Tudo pode mudar abruptamente neste Brasil solapado por três crises severas: a Covid-19, a sua consequência avassaladora na economia e Jair Bolsonaro.

E como anda São José?

OVALE, dando início à maior cobertura de sua história, largou na pole, publicando com exclusividade a foto das nuvens que pairam sobre o céu da política joseense. O levantamento OVALE/ Paraná Pesquisas, publicado no último dia 13, mostrou quais são as cartas sobre a mesa.

Revelando a fotografia, observando os negativos, lendo nas entrelinhas, é possível verificar o embate isolamento e flexibilização como o pano de fundo.

Após mais de três meses de quarentena, apesar dos apelos feitos pelas autoridades científicas, o apoio ao distanciamento social, visto no início do processo, foi minado pelo discurso do Palácio do Planalto -- o capitão apostou na artificial dicotomia saúde versus economia.

Em abril, pesquisa da prefeitura mostrou apoio de 82% da população às medidas de isolamento. Dois meses depois, levantamento de OVALE mostrou uma mudança drástica: 64,5% dos joseenses a favor da reabertura do comércio. Isso mesmo com a explosão no número de casos e mortes, em um país que já enterrou mais de 55 mil vidas ceifadas pela Covid-19.

Essa alteração, que também influenciou governantes, permeou a pesquisa. Defensor maior da reabertura, o presidente é avaliado em São José como ótimo ou bom por 39,4%. Bolsonaro é aprovado por 51,6%.

Principal antagonista de Bolsonaro, o governador João Doria (PSDB) segue por um caminho contrário: sua gestão foi reprovada por 50,4%. Atento aos humores da sociedade, o governo Doria recalculou a rota devido à queda de avaliação. Se em maio a palavra da vez era lockdown, ela foi substituída por 'reabertura consciente' no mês de junho.

Em São José, o prefeito Felicio Ramuth (PSDB), que já em abril iniciou a defesa de uma reabertura gradual, teve aprovação de 69,9% na pesquisa.

O tucano lidera a corrida pelo Paço, com 40,8% na intenção de votos -- na pesquisa estimulada.

A defesa da flexibilização trouxe, por ora, dividendos políticos ao prefeito, favorecido também pela ausência de um nome forte ligado ao presidente, que pudesse 'herdar' o ativo, e ainda pela falta de uma sombra, de um adversário que -- ao menos hoje -- mostre-se competitivo.

Com o aumento no número de casos e mortes de Covid-19, Felicio atenuou o discurso e adotou novas medidas, como restringir o comércio não-essencial no fim de semana.

Revelada a foto do céu de São José, resta agora saber como as nuvens se movimentarão até a eleição e qual será o impacto da pandemia nas urnas..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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