Ideias

Por quem os sinos dobram em são José?

Por Guilhermo CodazziJornalista e escritor, editor-chefe de OVALE e Gazeta de Taubaté | 18/04/2020 | Tempo de leitura: 2 min

Por quem os sinos dobram?

Deitado em seu leito, onde repousava o corpo cansado, palco de uma dura batalha travada na entre vida e morte, o poeta John Donne (1572 - 1631) escutava o som vindo do campanário.

Era a pergunta que seguia-se, feita por pessoas próximas, por quem por ali passava.

Trocando em miúdos, de forma resumida, o questionamento era: 'quem morreu?'. O tilintar indicava uma morte.

Em sua obra intitulada Meditações, de 1624, o escritor e reverendo britânico publicou aquele que é seu poema mais conhecido, que resiste aos séculos e ainda segue sendo recitado nos dias atuais. E ele diz:

"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".

Traduzindo: não pergunte quem morreu, pois se um homem morreu, morreu também um pedaço de toda a humanidade.

Nos dias atuais, o sino dobra à exaustão em meio à luta contra a pandemia do novo coronavírus, que já matou aproximadamente 150 mil pessoas em todo o mundo. É a maior crise global desde a Segunda Guerra Mundial.

E quanto vale uma vida?

Segundo um estudo da Unifesp (Universidade Estadual Paulista), os casos da Covid-19 no interior paulista estão três semanas atrás dos números registrados na capital. "Então não é hora de relaxar a quarentena. Estamos vivendo a maior calamidade pública desde a gripe espanhola", diz o professor Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, da Faculdade de Medicina da Unesp.

E nesse cenário tão crítico, que deverá se agravar nas próximas semanas, a Prefeitura de São José, contrariando a ciência, o Estado e a OMS (Organização Mundial da Saúde), cedeu à pressão do comércio e flexibilizou as regras para o isolamento social -- única arma contra o vírus.

É o maior erro deste governo.

Por quem os sinos dobram?

Eles dobram por ti. Blém-blém....

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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