
No auge dos meus sete ou seis anos, assistia uma das versões do Sítio do Picapau Amarelo na TV enquanto esperava pelo almoço da minha vó.
Em um dos episódios, fui apresentada ao Saci. Menina medrosa que era, morri de medo daquela figura que surgia na escuridão com seu gorro vermelho e risada macabra.
Anos se passaram e fã de horror que sou, nada é capaz de me assustar tanto assim. Contudo, a lembrança do Saci ainda permeia minha memória.
O pó de “pirlimpimpim” de Emília nos transportava a histórias fantásticas, cheias de mistério e muitas vezes, assustadoras. Afinal, não era somente a Cuca que causava medo na criançada.
Foi essa premissa que inspirou a criação da antologia “O Lado Sombrio do Sítio”. Lançada neste ano, o livro reúne 42 escritores que reimaginaram o Sítio do Picapau Amarelo em histórias tenebrosas.
Não é de se espantar que a obra de Monteiro Lobato seja usada para provocar medo. Afinal, o escritor se inspirou fortemente no folclore brasileiro, rico e recheado de histórias assombradas, algumas delas nascidas e reunidas aqui, no Vale do Paraíba.
A antologia foi organizada por Felipe S. Mendes, que, como costuma dizer, “nasceu” junto de Monteiro Lobato, sendo apresentado ao seu universo muito cedo.
Quando fez o chamamento de escritores para a antologia, recebeu mais de 200 contos, além de mensagens de pessoas curiosas para ver os personagens do Sítio em uma ambientação de terror.
“O sobrenatural sempre esteve na obra. A Emília é uma boneca que anda e fala. Por que ela não poderia causar tanto medo quanto a Annabelle?”, questiona ele.
CONTOS.
Entre os escritores da antologia está André Vianco, considerado o maior escritor de literatura de terror brasileiro, criador da antologia “Os Sete”. Em sua história, Vianco descreve a “insanidade” causada pelo pó de “pirlimpimpim”.
O escritor estreante Rick Bzr utilizou seu medo da água para escrever seu conto, que se passa no Reino das Águas Claras, que é infestado de sereias malditas.
Considerado um sucesso, “O Lado Sombrio do Sítio” teve 700 dos seus mil exemplares vendidos na Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2019. Em breve, a antologia ganhará uma segunda edição. “Acredito que o livro pode despertar o interesse das pessoas na obra do Monteiro”, afirma Rick..