Quando entrei na faculdade, aos 16 anos, décadas atrás, coloquei uma mochila nas costas e viajei pelo Brasil do Oiapoque ao Chuí antes do início das aulas.
De carona.
Contando moedas e trabalhando aqui e acolá para me manter na estrada. Foi uma experiência ímpar. Nessa viagem, descobri, na prática, o tamanho do Brasil e como ele era (e é) um país cheio de contrastes, desigualdades e, em especial, beleza. Nessa jornada, lembro da seca e dos rostos que encontrei à beira da Belém-Brasília e o impacto que tive ao ver, pela primeira vez, a Amazônia, árvores imensas semicobertas pela neblina. De "gaiola", dormindo em rede, cheguei a Santarém, depois a Manaus.
A volta, por barco e estrada, a mata ora se afastava, ora se fechava ao redor. Me senti pequeno. Tive essa mesma sensação, anos depois, jornalista, ao percorrer parte da Transamazônica e a sobrevoar, em outra ocasião, a floresta que parecia não ter começo, meio ou fim. Pensei: o que guarda e o que nos reserva essa imensidão? Hoje, com as queimadas em número alarmante, me veio a sensação de que, sim, a floresta pode ter fim, um dia.
Mas vejo que o revés sofrido pelo governo Jair Bolsonaro em seu embate contra dados científicos, fornecidos pelo Inpe, está sendo benéfico para a floresta. Mentiroso contumaz, Bolsonaro viu sua visão retrógrada, rancorosa, virar fumaça, a ponto de ter de se retratar e colocar a máquina do governo em ação para conter o que, segundo ele, não existia: o desmatamento acelerado. Na hora do olho no olho, o Capitão piscou. Será uma inflexão em um governo medíocre? Não acredito. Mas o abalo da popularidade de Bolsonaro é uma fissura real. Curioso que, mesmo de rabo entre as pernas, não se lembrou de pedir desculpas aos técnicos e cientistas do Inpe, que foram achincalhados semanas antes. Desculpas especiais a Ricardo Galvão, que perdeu seu cargo de diretor do Instituto.
Mas aí já é pedir demais. Nem Bolsonaro, muito menos os áulicos de seu governo, entendem a grandeza que o cargo de presidente da República traz consigo. O Brasil é grande demais para eles. Ou, talvez, quem sabe, sejam eles, homens medíocres, pequenos demais frente ao Brasil. Que eles sejam breves..