Ideias

A quadratura do círculo vs. a raiz quadrada de 3

Por Hélcio CostaJornalista e diretor da empresa Matéria Consultoria & Mídia | 18/01/2020 | Tempo de leitura: 2 min

O prefeito Felício Ramuth (PSDB) convocou uma entrevista para provar, por A B, que a Ponte Estaiada foi paga com recursos do BID e não com verba do Orçamento. Após 20 minutos de explicações, Felício provou exatamente o contrário: os recursos vieram do Orçamento. Com ajuda do BID, mas, do Orçamento.

Como assim?

O enredo de Felício se baseia em uma reengenharia financeira, feita com a simpatia do BID e uma espécie de contabilidade criativa. Com a ponte excluída, em setembro, do contrato com a prefeitura (isso é fato), o BID abriu a possibilidade de o governo identificar outras despesas que pudessem ser colocadas sob o "guarda-chuva" do acordo. Pagamentos já executados, como a desapropriação da Via Cambuí e a obra da Via Oeste, foram "encaixados" no contrato e reembolsados pelo BID à prefeitura. Estimado em R$ 57,4 milhões, esse dinheiro vai pagar a ponte, jura Felício. Noves fora, é, no entanto, dinheiro do Orçamento, devolvido ao município graças a um acordo de compensação.

É louvável o esforço para não deixar a verba do BID escapar. Por menos, Carlinhos Almeida (PT) desistiu da Via Banhado. Contra o relógio (o contrato vencia em dezembro), a opção foi positiva. Sobre a contabilidade criativa, ela será analisada pelo TCE. A pulga coça atrás da orelha, no entanto, por um detalhe: a ponte foi excluída do contrato em setembro de 2019, mas o governo só tornou isso público agora, em janeiro de 2020, após ser colocado contra a parede. Por quê? Felício esboçou uma resposta: segundo ele, esse detalhe não interfere na vida do cidadão. Aí não, cara-pálida. Transparência não é favor que dá na telha do gestor, é obrigação.

Felício gosta de números. É válido. Racionais ou irracionais, eles são lógicos. Mas, ao driblar o princípio da transparência, ele errou no cálculo. Quis provar a quadratura do círculo e isso --como a gente aprende na escola, uma aula depois da raiz quadrada de três-- é tarefa impossível. Mais: frente a outras obras e licitações, como a Linha Verde, que outros "detalhes" Felício acha que não interferem na vida do cidadão e não precisam ser conhecidos?Essa é uma equação perigosa..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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