O último dia 2 de abril foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2007, como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A data tem o objetivo de levar informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA). De acordo com o DSM-5, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por dificuldades de comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. Lindas explicações e definições sobre o autismo, mas a utilização de palavras técnicas e complexas demais para a maior parte da população, não ajuda muito nessa tal de conscientização. Tentarei escrever de maneira "popular". De antemão, já aviso: nenhum autismo é leve! E, pasmem!
Quase ninguém sabe, mas o transtorno é um espectro porque nele estão amalgamadas uma quantidade infinita de variações nos sintomas e características, ou seja: nenhum autista é igual ao outro! Oficialmente, são três os níveis de suporte para pessoas com autismo. O nível 1 necessita de pouco apoio, o nível 2 necessita de apoio moderado e o nível 3 necessita de muito, mas muito mesmo, apoio.
Dizer que o autismo em uma pessoa é leve ou pesado, ou grave e esse tipo de coisa, não é educado. Só a própria pessoa com autismo ou seus familiares, tem condição de dizer o quanto de suporte lhe é necessário para existir na sociedade. Não existe "anjo azul", o que existem são pessoas com virtudes e vícios como qualquer outra. Uma pessoa com autismo pensa e age com bastante lógica, logo, dificilmente consegue conviver com outras pessoas se estas forem falsas, mentirosas e dissimuladas, por conta dessa característica peculiar, disse eu em outro texto que, conviver com um autista é um convite à reforma íntima.
Sabe o supermercado? Então... O barulho, as prateleiras lotadas de embalagens de todos os tipos, tamanhos e cores, as pessoas circulando e falando, a música ambiente, tudo isso acontecendo ao mesmo tempo "buga" o cérebro... Se for uma criança, vai acabar irritada e chorando, muitos dirão que é birra, mas no fundo, aquela chuva de informações que chega pelos ouvidos, pelos olhos e pela pele estão acabando com a vida dela, ali, naquela frugal ida ao mercado, naquele momento (e não é exagero)!
A maioria de vocês não tem noção do nível de sofrimento, pressão e esgotamento que as famílias dessas crianças atípicas sofrem. Além de terem que lidar diariamente com as demandas de seus familiares neuroAtípicos, ainda sofrem a ansiedade pelo receio do futuro deles, pois sabem que as crianças se tornarão adultos e sabem, mas dolorosamente ainda, que não estarão aqui um dia e, então, quem vai cuidar daquele ou daquela autistinha? Mas, é só birra tá? Agora está na moda falar que todo mundo tem autismo. Sim, fui irônica.
Para os que têm nível de suporte 1, sabe trabalhar? Então... Os autistas que trabalham, normalmente, só trabalham, porque não sobra energia para mais nada! Só querem ficar em casa aos finais de semana, se recuperando para dar conta da próxima semana de trabalho. E, quando falta energia até para trabalhar, pode acontecer de ficarem doentes com bastante frequência ou fugirem dos ambientes hostis de seus locais de trabalho.
A pressão é tanta que chegam a colocar em risco suas próprias vidas e sua própria subsistência. São elevados os casos de suicídios entre as pessoas adultas com autismo e nível 1 de suporte. Elas desenvolvem outras doenças físicas e psiquiátricas, na vã tentativa de se adequar ao mundo que as engole. Mas, geralmente, seus próprios colegas de trabalho dirão que esse(a) autista não gosta de trabalhar e usa o autismo como muleta. Novamente a ironia: está na moda dizer que todo mundo tem autismo, né?
Triste isso...
Sabe o sinal da escola? Aquele que grita entre as trocas de aulas, entradas e saídas? Pois é.... para alguns alunos com autismo é como o soar das trombetas do apocalipse! Autista tem que estar na escola sim! Mas, não dá para substituir aquele sinal por algo menos agressivo? Esse aluno já tem outras questões para lidar (outros alunos, outros barulhos, outros tudos), que sejam então, a entrada, a saída e as trocas de aulas, momentos mais leves.
E tomar banho? Para alguns, as gotas de água são como navalhas caindo e perfurando cada centímetro de pele que há no corpo. Passar perfumes, desodorantes, cremes... O odor, a textura, pode ser um convite à náusea, ao colapso por conta das sensações. Conversar.... Existem os autistas verbais e não verbais. Os que conversam, os que não conversam e os que usam meios alternativos para conversar, tipo, fichas de comunicação com imagens do que necessitam comunicar, tablets, textos escritos, um comportamento que pode ser uma crise de choro, sair correndo, uma explosão de raiva.
Não importa como, mas a pessoa com autismo, sempre arruma um meio de se comunicar. Os autistas de nível 1 costumam conversar, mas tem dificuldades para entender as reais intenções das falas, não percebem de imediato as entrelinhas e, por conta disso, tendem a sofrer muitos abusos emocionais, físicos e até mesmo financeiros.
São incontáveis as situações cotidianas, que se aqui listadas, dariam um livro. Fato é que, pessoas com autismo, necessitam de muita terapia para aprenderem, um pouco, a caminhar por este mundo e por entre as pessoas que não tem autismo. Então, da próxima vez que você cruzar com uma pessoa com autismo, seja ela criança, jovem, adulto ou idosa, olhe para ela com mais empatia.
Seja o mais honesto possível com ela, pois, se ela gostar de você, provavelmente terás um amigo leal e sincero para toda a vida. Aliás, essa é outra característica dessas pessoas: são de poucos amigos, têm dificuldade para procurar os poucos amigos para conversar e, acabam sendo mal faladas por isso, mas, quando não gostam de alguém, não gostam e não conseguem disfarçar, mas, quando gostam: amam de verdade e demonstram isso da melhor maneira que conseguirem comunicar!
A verdadeira inclusão, só acontecerá, quando não forem mais necessários diagnósticos e dias como este 02 de Abril para conscientizar as pessoas que, ainda não tem consciência, de que somos todos seres humanos, diferentes em nossas características e modos de existir na vida, porém, todos: seres humanos!