PREFEITO DE TAUBATÉ

Sérgio assume o Bom Conselho com o desafio de cortar despesas

Por Xandu Alves | Taubaté
| Tempo de leitura: 6 min
Caique Toledo / OVALE
Sérgio Victor (Novo) será o prefeito de Taubaté de 2025 a 2028
Sérgio Victor (Novo) será o prefeito de Taubaté de 2025 a 2028

O prefeito eleito de Taubaté, Sérgio Victor (Novo), assume o mandato nesta quarta-feira (1º) com o desafio de colocar as finanças da cidade em dia. O maior desafio será cortar despesas para encarar a dívida da cidade.

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“O grande desafio de Taubaté é fluxo, é caixa. A gente estima mal a receita, gasta mais do que arrecada e isso foi virando uma bola de neve”, disse o prefeito eleito em entrevista exclusiva a OVALE.

Segundo ele, a estimativa gira em torno de R$ 650 milhões o rombo nas contas da administração municipal.

“A gente já sabia que essa era a situação e agora é encontrar as maneiras de reduzir essa despesa, de fazer a conta caber dentro do orçamento”, completou o prefeito eleito. Confira a seguir a entrevista com Sérgio Victor.

 

Com o está a situação financeira da prefeitura?

Olha, a gente enfrenta vários desafios. A gente já sabia que a situação financeira era bem drástica. Então, é a confirmação de que, desde 2017, a gente gasta mais do que arrecada e tem o histórico da prefeitura também de superestimar o valor da receita. E aí obviamente não consegue pagar todas as despesas do ano e empurra para frente os restos a pagar, como eles chamam, e esse número vem aumentando ao longo do tempo. O desafio aqui, segundo a Secretaria de Finanças, para o próximo ano, deve girar em torno de R$ 300 milhões, isso é um valor muito alto até perto do tamanho do orçamento.

Outra coisa: esse orçamento aprovado na Câmara Municipal estima receita de R$ 1,865 bilhão mais ou menos. A prefeitura continua cometendo o mesmo erro de superestimar o orçamento. Ali contém a estimativa de receita da planta genérica de valores e da venda de imóveis, que não foram aprovadas. Então, só desses dois itens já se estima que perto de R$ 300 milhões também não existem e que são fumaça. O grande desafio de Taubaté é fluxo, é caixa. A gente estima mal a receita, gasta mais do que arrecada e isso foi virando uma bola de neve. A gente já sabia que essa era a situação e agora é encontrar as maneiras de reduzir essa despesa, de fazer a conta caber dentro do orçamento. Estimo que os primeiros dois anos serão duros de reajuste.

No mais são políticas públicas machucadas. Na saúde, eu sinto que a gente está muito atrás no quesito digitalização, e isso impacta muito na sua capacidade de gestão. Então, um grande choque de gestão, de digitalização, para a gente ter um diagnóstico melhor, para a gente acompanhar melhor a jornada do paciente.

Acho que são esses os grandes desafios. O financeiro, que é matemática, tem que brigar para reduzir despesas e aumentar a receita. E o segundo que é a política pública machucada, em especial na saúde, onde sem dúvida está a maior dor do taubateano. A gente está gastando esse ano perto de 35% do orçamento com saúde, isso é um valor muito alto que sufoca o município. Gastamos muito e mesmo assim tem um hospital semifechado e em algumas áreas ainda tem uma reclamação recorrente do cidadão. Temos muito trabalho pela frente para corrigir a rota.

 

Os últimos dois anos da atual gestão foram marcados por dívidas milionárias, atraso de pagamentos de terceirizadas, suspensão de serviços. O senhor já sabe qual é a dívida atual da prefeitura? E tem ideia de como sanar essa dívida?

Sim, e tem alguns conceitos diferentes. Uma coisa é a dívida consolidada. E aí entra o empréstimo do CAF, da Finisa, que é um valor significativo. Mas, em linhas gerais, o problema maior de Taubaté são os acordos que não são considerados dívida, mas são acordos firmados que tomam bastante espaço no orçamento.

Aí entra uma série de renegociações com o IPMT, com o próprio sistema municipal de bolsas da Unitau, com a Eco Taubaté, e somados esses valores no ano que vem vai bater perto de R$ 173 milhões. Eu falo de R$ 173 milhões que já têm um destino final e que não gera nenhum valor para a cidade nesse momento, só pagamento de dívida ou de acordos, isso é muito severo.

Soma os R$ 300 milhões estimados que a gente só vai saber ano que vem, de restos a pagar, e soma aí os R$ 300 milhões mais ou menos da receita estimada que não existe, esse é o tamanho do desencontro de caixa. Sem contar o empréstimo do CAF das parcelas que não foram pagas, são mais perto de R$ 180 milhões.

Temos que achar dinheiro, renegociar contratos, reduzir despesas drasticamente. Alguns remédios são amargos, alguns serviços e eventos não serão realizados, mas é um passo para trás para dar dois para frente.

 

A diferença entre o que você tinha estudado durante a campanha e o que está vendo agora na transição é grande?

A gente continua preparado para o pior. Não sabíamos o valor exato. É claro que preocupa mais quando você começa a confirmar os números. Você sempre tem aquela expectativa, e a campanha mesmo foi muito de esperança e de renovação. Então, você fica com aquele sentimento de que pelo menos é possível ainda encontrar uma situação um pouco mais saudável, mas a quantidade [de desafios] é grande.

A gente viu que a ABC reclamar de falta de repasse e que talvez entrem em greve. A gente está devendo para os principais serviços da cidade e boa parte do orçamento já está amarrado, está engessado com a folha de pagamento, que foi um aumento significativo da gestão atual, com os grandes contratos. Talvez o que preocupa mais é ter cada vez menos espaço de onde corrigir a rota. Nos cargos, na revisão dos contratos, o que faz com que algumas decisões sejam mais duras para fechar a conta.

 

A que você atribui esse problema todo que a cidade enfrenta? Como Taubaté chegou a esse ponto?

Não sei se falta de experiência de gestor ou de vontade política, mas o fato é que gastamos mais do que arrecadamos há muito tempo. Pelo histórico político também, a gente não teve continuidade das boas políticas públicas. Quando você compara com outros municípios que deram certo, muitas das vitórias de hoje são reflexo da participação de vários prefeitos, mesmo não sendo dos mesmos grupos. E parece que Taubaté teve conflitos maiores entre gestores e menos continuidade.

Particularmente, eu gosto muito do Emanuel [Fernandes] que a gente estava falando aqui antes do não retorno do candidato. Isso obriga também a você elevar a régua para passar o bastão, para preparar o terreno, porque para você passar para o próximo e não ter essa chance de voltar, então você acaba tendo menos incentivos de deixar um problema para depois você voltar de herói, que talvez tenha sido uma das coisas que a gente ouve muito em Taubaté. Esse retorno especialmente da família Ortiz.

Mas é isso. Ao longo do tempo, você vê pouca continuidade e investimentos de infraestrutura pesada que não foram bem realizados, então a gente ficou com a dívida mas não necessariamente tem uma cidade estruturada, a gente perde a capacidade de investimento. E ainda continua vivendo problemas de enchente, de fila de mais de mil crianças esperando vaga na creche, recentemente pelo menos. Claro que esse número oscila. A gente vê uma mobilidade caótica em Taubaté. Enfim, a gente gastou, mas não viu o retorno disso.

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