NEGOCIAÇÃO

Trump defende cessar-fogo imediato na Ucrânia

Por | da Folhapress
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Reprodução/Gage Skidmore /Flickr
O republicano prometeu ao longo da campanha buscar uma resolução negociada para o conflito.
O republicano prometeu ao longo da campanha buscar uma resolução negociada para o conflito.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu neste domingo (8) um cessar-fogo imediato e negociações entre a Ucrânia e a Rússia para acabar com o que chamou de "a loucura" da guerra no Leste europeu.

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As declarações de Trump levaram o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e o Kremlin a rapidamente listarem suas condições para uma eventual trégua.

Trump fez seus comentários poucas horas depois de se reunir com Zelenski em Paris, no que foi a primeira conversa presencial entre os dois desde sua vitória nas eleições nos EUA, em novembro.

O republicano prometeu ao longo da campanha buscar uma resolução negociada para o conflito, mas até o momento não forneceu detalhes sobre como pretende fazê-lo.

"Zelenski e a Ucrânia gostariam de fazer um acordo e parar com a loucura", escreveu Trump em sua conta na rede social Truth Social no domingo, acrescentando que Kiev perdeu cerca de 400 mil soldados no conflito. "Deve haver um cessar-fogo imediato e as negociações devem começar."

"Eu conheço bem o Vladimir [Putin, presidente da Rússia]. Este é o momento dele para agir. A China pode ajudar. O mundo está esperando!", acrescentou.

O número de 400 mil soldados ucranianos perdidos na guerra mencionado por Trump foi dado por Zelenski e a princípio inclui tanto os militares mortos (43 mil) quanto os feridos (370 mil).

Em outra afirmação que pode ter consequências para o conflito veiculada também neste domingo, Trump disse à emissora americana NBC que considera deixar a Otan, a aliança militar do Ocidente, caso os EUA não sejam tratados justamente e os demais sócios não paguem suas contas - o republicano defende que integrantes da aliança aumentem seus gastos com defesa desde o seu mandato anterior.

Na mesma entrevista -gravada na sexta-feira (6), portanto antes do encontro com Zelenski em Paris -, Trump disse que provavelmente reduzirá a ajuda americana à Ucrânia na guerra contra a Rússia. "Possivelmente. Sim, provavelmente, com certeza", disse.

O americano, que estava em Paris para a reabertura da catedral de Notre-Dame, esteve com Zelenski no sábado (7) por cerca de uma hora. Junto com eles estava o presidente da França, Emmanuel Macron, o responsável pela realização da rápida reunião de cúpula.

Na ocasião, Trump e Zelenski apertaram as mãos e sorriram, mas não estava claro como a conversa havia transcorrido. Relatos da reunião, do lado francês e ucraniano, disseram apenas que as discussões foram boas e produtivas.

Zelenski reagiu à mensagem de Trump deste domingo dizendo que a paz não é apenas um pedaço de papel e que precisa de garantias.

"Quando falamos sobre uma paz eficaz com a Rússia, devemos, acima de tudo, falar sobre garantias eficazes para a paz. Os ucranianos querem paz mais do que qualquer um", disse ele no X.

"A guerra [não] pode simplesmente terminar com um pedaço de papel e algumas assinaturas. Um cessar-fogo sem garantias pode ser anulado a qualquer momento, como Putin já fez antes", disse, referindo-se aos mal-sucedidos acordos de Minsk, assinados entre 2014 e 2015. "Para garantir que os ucranianos não sofram mais perdas, devemos garantir a confiabilidade da paz e não fechar os olhos para a ocupação", prosseguiu o líder.

A Rússia, por sua vez, convocou uma teleconferência com jornalistas para comentar as falas de Trump deste domingo.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que Moscou está aberta a conversas, mas que elas devem ser baseadas nos acordos alcançados em Istambul há dois anos e nas realidades atuais do campo de batalha, onde as forças russas têm avançado em seu ritmo mais rápido desde os primeiros dias da guerra, em 2022.

Putin disse repetidamente que um acordo preliminar alcançado entre negociadores russos e ucranianos nas primeiras semanas da guerra e nas conversas em Istambul, jamais implementado, pode servir como base para futuras negociações. "Nossa posição sobre a Ucrânia é bem conhecida", disse Peskov.

"As condições para uma interrupção imediata das hostilidades foram apresentadas pelo presidente Putin em seu discurso ao ministério das Relações Exteriores da Rússia em junho deste ano. É importante lembrar que foi a Ucrânia que se recusou e continua se recusando a negociar", afirmou.

Para que um acordo de paz seja alcançado, Putin disse que a Ucrânia não deve aderir à Otan e que a Rússia deve permanecer totalmente no controle de quatro regiões ucranianas que suas tropas ocupam parcialmente no momento.

Peskov observou que Zelenski havia proibido os contatos com a liderança russa por meio de um decreto especial, que, segundo o porta-voz, teria que ser revogado para que as negociações prossigam.

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