O homem que foi jogado de uma ponte por um policial militar na região de Cidade Ademar, na zona sul da capital, prestou depoimento nesta sexta-feira (6) à Polícia Civil. Marcelo Barbosa do Amaral, 25, afirmou que foi parado em uma blitz da polícia e negou que tenha fugido e sido perseguido pelos PMs.
O policial militar Luan Felipe Alves Pereira, 29, filmado arremessando o jovem, foi preso. O crime foi registrado em vídeo.
A reportagem teve acesso ao depoimento, no qual Amaral afirmou à Polícia Civil que estava voltando da casa da esposa na Vila Inglesa quando viu a blitz, com os policiais com cassetetes na mão. Ao frear a moto, ele conta, os policiais começaram a correr em sua direção. O rapaz afirmou que se assustou e caiu da moto. Depois, saiu correndo. Nesse momento, segundo ele, levou golpes de cassetete na cabeça e nas costas.
"Disse que o policial que o agrediu foi levando ele pelo 'colarinho' até perto de uma ponte, onde falou: 'você tem duas opções, ou você pula da ponte ou eu jogo você e a motocicleta", aponta depoimento.
O rapaz diz ter respondido que não era ladrão e que a moto não era roubada. "Neste momento, o policial pegou sua perna e lhe jogou. Disse que caiu no córrego de joelhos e uns moradores de rua que ficam embaixo da ponte falaram: 'vem aqui e pode fugir por ali'."
O jovem ainda conta que pegou uma carona com um carro que estava passando e foi até a UPA Santa Catarina.
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Ele disse que a queda não o feriu. Os machucados que tinha eram devido às agressões de um único policial, que foi o mesmo que o jogou da ponte, disse. Depois ele identificou o PM como Luan Felipe Alves Pereira.
Amaral também disse no depoimento que não tem ideia do motivo pelo qual foi agredido. Ele afirmou que não estava correndo e não agrediu ninguém verbalmente. Ele falou também que os policiais não pediram seu documento nem perguntaram seu nome, apenas correram atrás dele.
Por isso, declarou estar com medo.
Moradores da Vila Clara, onde o crime ocorreu, afirmam que abordagens violentas de policiais militares são corriqueiras na região e que temem represálias.
Vizinhos disseram também que Amaral e sua família deixaram a cidade após a repercussão do caso. Eles moravam em um bairro vizinho, também na zona sul.
Na decisão que decretou a prisão do policial, o Tribunal de Justiça Militar de São Paulo aponta que a ocorrência teve início com um fato considerado "questionável": o policial teria ligado para um agente de seguros para perguntar se, ali na região, havia alguma moto roubada sendo rastreada. Essa conversa teria desencadeado a operação que resultou na abordagem ao motociclista.
"Ouvido em sede inquisitorial, acompanhado de advogado constituído, o representado declarou que, ao iniciar o serviço, contatou um civil que trabalha em uma seguradora para verificar se havia veículo produto de roubo com rastreamento ativo na região de patrulhamento. Segundo ele, foi informado sobre uma motocicleta Yamaha, o que motivou o deslocamento para sua apreensão", traz trecho da decisão.
Fabrício Alonso Martinez Della Pachoa, juiz substituto da Justiça Militar, afirma ainda que o PM não fez o devido registro de todos os fatos que ocorreram naquela noite tampouco indicou qual a destinação dada à moto do rapaz agredido. No documento, o magistrado aponta que, além da agressão em si, podem ter ocorrido outros delitos militares.
Segundo a SSP, não há registro de apreensão da moto.
Para a defesa do soldado Luan Felipe Alves Pereira, o policial militar já está sendo punido e penalizado. A manutenção da prisão preventiva dele, decidida no fim da tarde desta quinta-feira (5) em audiência de custódia, está fundamentada em questões de hierarquia, por ele ser praça, e no clamor público do caso.
É o que diz o advogado Raul Marcolino, que compõe a defesa do PM com Wanderley Alves, em nome da Associação dos Praças da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
"No nosso entender, na verdade, é desnecessária a prisão dele. Nós ressaltamos isso, inclusive, porque é praça. É soldado da Polícia Militar. Portanto, uma classe, em tese, vista como inferior."