O ex-prefeito de Taubaté Ortiz Junior (Republicanos), que disputa o segundo turno da eleição municipal, divulgou uma informação inverídica essa semana durante debate contra o candidato Sérgio Victor (Novo).
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Ao comentar sobre o déficit de vagas nas creches, o ex-prefeito, que comandou o município de 2013 a 2020, afirmou ter zerado a fila de espera duas vezes nesse período. "Eu já zerei duas vezes e vou zerar de novo", disse durante o debate.
No entanto, dados que foram divulgados pela própria Prefeitura ao longo do governo Ortiz mostram que a fila de espera não foi zerada nenhuma vez.
Fila.
A divulgação mensal da fila de espera no site da Prefeitura começou a ser feita apenas em julho de 2017, já no segundo mandato de Ortiz. Antes disso, porém, em diversas ocasiões a administração municipal reconheceu a existência de déficit.
Em março de 2014, por exemplo, quando anunciou a intenção de construir 16 creches até o ano seguinte, Ortiz afirmou que o déficit era de 3.000 vagas. Em março de 2016, a Prefeitura alegou que o déficit era de 600 vagas. Em entrevista em novembro de 2016, o então prefeito falou que era de 1.700 vagas. E, em janeiro de 2017, a Prefeitura afirmou que era de 1.500 vagas.
Entre julho de 2017 e fevereiro de 2020 (quando a pandemia suspendeu as aulas presenciais), a Prefeitura divulgou 31 listas mensais com a relação de crianças que esperavam por uma vaga nas creches municipais. Em 20 desses meses, a fila de espera tinha mais de 1.000 crianças. Em dois deles, passava de 2.000 - em setembro de 2017 (2.080) e em outubro de 2018 (2.120). Já as menores filas foram registradas em outubro de 2019 (196), novembro de 2019 (548), janeiro de 2019 (585) e janeiro de 2020 (656). A lista nunca apareceu zerada.
No primeiro mandato, Ortiz prometeu construir 16 creches, que somariam 3.000 novas vagas, mas apenas quatro foram entregues (Vila São José e Jaboticabeira, em 2014; Vila Aparecida, em 2015; e Estoril, em 2016), somando 581 novas vagas. No segundo mandato, foram inauguradas sete creches, somando 877 vagas: uma unidade em 2017 (Barranco, com 130 vagas), quatro em 2018 (Marlene Miranda, Monjolinho, Oásis e Portal da Mantiqueira, somando 503 vagas) e duas em 2019 (Fazendinha e Hípica Pinheiro, com 244 vagas).
Crianças na fila de espera, mês a mês.
- julho/2017: 1.650
- agosto/2017: 1.845
- setembro/2017: 2.080
- novembro/2017: 1.066
- dezembro/2017: 804
- janeiro/2018: 1.162
- fevereiro/2018: 1.164
- março/2018: 1.235
- abril/2018: 1.065
- maio/2018: 1.127
- junho/2018: 1.172
- julho/2018: 1.174
- agosto/2018: 1.474
- setembro/2018: 1.613
- outubro/2018: 2.120
- novembro/2018: 1.853
- dezembro/2018: 824
- janeiro/2019: 585
- fevereiro/2019: 670
- março/2019: 749
- abril/2019: 812
- maio/2019: 880
- junho/2019: 936
- julho/2019: 1.099
- agosto/2019: 1.234
- setembro/2019: 1.450
- outubro/2019: 196
- novembro/2019: 548
- dezembro/2019: 916
- janeiro/2020: 656
- fevereiro/2020: 1.298
Ex-prefeito.
Questionada pela reportagem, a campanha de Ortiz alegou que a fila de espera teria sido zerada em outubro de 2016 e em outubro de 2019. "Em outubro de 2016, havia cerca de 120 crianças à espera de vagas, o menor número da série histórica até então. Com a chegada do período de rematrículas, essas crianças foram absorvidas pela administração e, com isso, a fila foi zerada. No mês seguinte, em novembro, com a aproximação do ano letivo seguinte, o período de matrícula foi reaberto e novos alunos - sobretudo entrantes - se inscreveram para uma vaga, formando nova fila. O mesmo aconteceu em outubro de 2019, quando 196 alunos foram absorvidos pela rede municipal e, no mês seguinte, houve nova abertura do processo de inscrição, com a chegada de novos alunos".
Essa versão, no entanto, é desmentida pelos próprios números divulgados pela Prefeitura à época. Embora a campanha de Ortiz alegue agora que a fila foi zerada em outubro de 2016, a administração municipal divulgou que ela tinha 1.700 crianças em novembro de 2016 e 1.500 em janeiro de 2017. E, embora diga agora que foi zerada em outubro de 2019, os números oficiais mostram que a fila tinha 196 crianças naquele mês, 548 em novembro e 916 em dezembro daquele ano.
Além disso, a conta feita pela campanha faz uma distorção dos dados. Em setembro de 2019, por exemplo, a fila tinha 1.450 crianças. Em outubro caiu para 196, pois foram retiradas da lista as crianças que seriam contempladas por vagas em janeiro de 2020. No entanto, quando chegou o mês de janeiro e elas foram contempladas, a lista já tinha outros 656 nomes. Ou seja, efetivamente, não houve nenhum mês em que não houvesse nenhuma criança fora das creches. O mesmo ocorreu no fim de 2016.